BOLSONARO O PRESIDENTE INESPERADO

QUEM, HOJE, OU AMANHÃ, SABE POR ACASO, O QUE O PRESIDENTE VAI APRONTAR?

 

Os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro (PSL), demonstram que há na matemática da política nacional uma equação integral de difícil solução e previsibilidade. Quando os filhos não estão gerando atritos e confusão, é o próprio presidente que escreve no twitter ou concede entrevistas, deixando atônitos seus ministros mais chegados e seus aliados no Congresso Nacional.

As últimas pesquisas sinalizam para uma queda monumental em sua popularidade mais por sua postura imprevisível, com tiradas burlescas ou sem lógica,  logo após consertadas ou corrigidas ao sabor da reação de seus ministros ou da opinião pública. É visível que o presidente, quando reverbera o que pensa naquela hora, o faz sem calcular a repercussão de suas diatribes. Tanto que  o ministro da economia Paulo Guedes, avalista de sua candidatura perante a classe empresarial, perplexo com as palavras do presidente, mas confiante no seu prestígio pessoal, procurou logo reverter a situação antes que o mal prosperasse. Da última vez que falou sem pensar,  só deu um prejuízo da ordem de R$ 32 bi à Petrobras,  segundo cálculos de especialistas em ações de mercado.

Essa questão do preço do diesel, e também da gasolina, precisa ser encarada de forma macro, executando um projeto de recuperação de nossa  combalida economia, a qual, por sinal, retornou às taxas alarmantes de desemprego do período Dilma Roussef.  Os preços são absurdos em todas as listas de compras no Brasil, desde a farinha, o feijão, a carne, as frutas e os legumes, e tudo isso tem algo a ver com o preço dos meios de transporte que carregam os nossos produtos para o mercado consumidor.

Por que o governo nem sequer fala em novos modais de transporte, como as vias férreas, num país continental como o nosso, e continua a insistir nas rodovias que têm um custo altíssimo tanto na construção, como na manutenção?

Voltando à postura presidencial: em suma, as suas manifestações extemporâneas só têm revelado um despreparo inconcebível para quem exerce o mais alto cargo da nação. A continuar esse estado de coisas inesperadas Paulo Guedes poderá entregar o bastão e deixar o governo à deriva. Não tem ministro insubstituível, mas, diante das circunstâncias em que foi conduzido ao cargo, com a incumbência de acalmar o mercado e resolver a economia, a sua saída seria um baque tão gigantesco para o governo, o qual, abalado pelo impacto da demissão, perderia de vez a sua credibilidade, fato que praticamente impediria uma recomposição com a sociedade.

A política econômica com viés de direita, que Bolsonaro abraçou na campanha vez por outra sofre recuos, talvez pela incerteza de cumprir ou não o acordo que fez para se eleger e atingir o pódio presidencial.  Exerceu por 28 anos seguidos o mandato de deputado federal pelo Rio de Janeiro, e, parece nada ter aprendido, nem do regimento interno da Casa, nem sobre a Constituição, quanto mais sobre economia e direito. Era considerado do baixo clero. Geralmente quando  pronunciava um discurso, de conteúdo geralmente bizarro,  ninguém prestava atenção, muitas vezes falando num microfone sozinho no plenário, e a Mesa presidida por algum deputado desconhecido.

No entanto, apesar de sua inexpressividade parlamentar, passava a imagem de sério e incorruptível. Os brasileiros, notadamente os dos Estados mais poderosos, sentiam um amargor com a política e com os políticos. Talvez , decepcionados com a política tradicional, com seus erros escancarados em atos de corrupção e desprezo pelo dinheiro público, estivessem procurando,  um  outsider ou, melhor dizendo,  um estranho da política. De fato, em certa medida, o Capitão,  muito embora fosse um político de 7 mandatos, nunca teve visibilidade, nem atuação destacada em debates e embates no Congresso Nacional ou perante a mídia dominadora do país. Integrante de um partido nanico (PSL), sem tempo de TV, e amparado apenas nas redes sociais, com recados curtos e certeiros contra as mazelas da “velha política”, caiu no gosto da maioria do eleitorado, que  e o conduziu, afinal, à presidência com uma dianteira de mais de 10  milhões de votos à frente de Haddad, o candidato de Lula e do PT.

Parece que, como que procurando alguém que combatia a tudo e a todos, a maioria dos brasileiros com direito a voto encontrou na figura do Capitão do exército – que exercia seus mandatos quase na surdina, mas sem se envolver em atos de corrupção-,   a pessoa ideal para levar a limpo os desvarios então cometidos pela ala tradicional da política. Esse sentimento de revolta veio como o rompimento de uma represa carregando em sua lama quem merecia e quem não merecia.

Por conta de um discurso moralista e de renovação dos costumes políticos, quem estava perto dele, ou mesmo distante física ou partidariamente, mas professando um credo semelhante contra as “velhas raposas que sugavam a nação”,  foi beneficiado com essa pregação, elegendo-se  com folga para o legislativo e até mesmo para o governo, a exemplo de João Dória, candidato a governador pelo PSDB de São Paulo, o qual, grudou na candidatura do Capitão como um náufrago atrás de uma tábua de salvação, cujo apoio, diga-se de passagem, não fora recebido com o mínimo de entusiasmo.

Resta agora ao Capitão ter mais cuidado com o que diz e com o que faz.  O Congresso não parece ser-lhe muito dócil. A reforma da previdência,  tida como a salvação da pátria, pode tornar-se apenas uma miragem, e ser desidratada em sua tramitação no Congresso, a reforma tributária para corrigir a desigualdade entre os entes federados pode ser apenas uma promessa, e  a reforma política,  para dar ao governo um mínimo de estabilidade, sem força e vontade de fazer, não passará das boas intenções.

O mal do Brasil tem sido o populismo exacerbado, aquela vontade de fazer, de consertar, desagradando o mínimo possível, sem saber medir com a régua do bom senso e do espírito público as ações para que se chegue a bons resultados. As velhas práticas do passado voltam a acontecer embaladas em novo formato e o tempo vai revelar quais são.

Por isso, Bolsonaro,  a meu ver, não passa de um populista de direita, a serviço de uma ideologia imprecisa, que denota em seus atos e palavras, inclinação para o autoritarismo e o individualismo.

Esse é o presidente inesperado do Brasil.

ACV

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