RETALHOS DA POLÍTICA – ESTUDO E PREPARO ANTES DA LUTA POLÍTICA

D JUDITE E PROFESSOR BENEDITO, DUAS ALMAS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

MINHA PASSAGEM PELO JACKSON DE FIGUEIREDO

Estudei por quatro anos no Colégio Jackson de Figueiredo, localizado no Parque Teóphilo Dantas, que tinha como diretores os enérgicos e dedicados professores Benedito e D. Judite, onde tirei o curso ginasial como aluno interno, onde dividia o alojamento com cem jovens de Sergipe, e dos Estados de Alagoas e Bahia. Regime de vida quase militar. No estabelecimento existiam vários dormitórios, separados por idade, para abrigar os alunos internos. Meu pai fez um esforço enorme para me manter estudando durante quatro anos numa unidade escolar da rede privada, uma referência naquela época de organização e ensino rigoroso. 

Pela manhã D. Judite reunia no pátio do Colégio, antes da banca, todos os alunos, proferindo palestras cívicas, de exaltação à Pátria e enaltecimento da família. A uma hora da tarde, no mesmo pátio, nova palestra, hino nacional, eu ali, perfilado com os meus colegas de várias idades e séries, em silêncio, vestido numa farda de cáqui, camisa branca e gravata, sol a pino, suor correndo por todo o corpo. Em seguida, todos em fila, íamos para a sala de aula. 

O SUSPENSE DO PROFESSOR JUGUSTA 

Na primeira aula da tarde, eu me recordo minha da ansiedade e a de todos os colegas. Estávamos aguardando o professor Jugusta, de matemática. Silêncio total, porque agora ele vinha subindo a escada de madeira em direção à sala, e, desde lá debaixo, já gritava com a sua voz inconfundível para os alunos nervosos à espera da prova aterrorizante de álgebra: “1ª questão!!!…”, bradava com seu vozeirão, na porta, antes de entrar. O homem adorava ver os seus alunos apavorados. Mas quem tivesse calma, podia até se sair bem porque ele não passava na prova  nada além do que apresentava em sala de aula. 

Quando terminávamos as aulas íamos tomar banho, vestir o pijama, e enquanto aguardávamos a hora de nos recolhermos ao dormitório, ficávamos jogando snooker, dama ou conversando no pátio, falando de nossos pais, relembrando as festas em nossas cidades, e das moças bonitas que encantavam a nossa terrinha. Tudo era pureza e inocência ainda em nossa vidas de jovens sem sabermos o que o futuro nos aguardava. Mas, se levássemos a sério poderíamos seguir um caminho reto e sem atalhos, porque estávamos ali lapidando o nosso caráter, aprendendo a ler e a estudar, aperfeiçoando o que trouxemos de casa. Os valores da ética, do compromisso com a humanidade, a lealdade à Pátria, consideração, respeito e gratidão.

A MISSA E A FOLGA AOS DOMINGOS

Todos os domingos, quem fosse católico, e a imensa maioria professava o catolicismo, éramos obrigados a assistir à missa na Catedral, ali bem em frente ao Colégio. Em formação dupla, com a farda lavada e passada, fazíamos um pequeno percurso até a igreja, sem algazarras nem conversas. Os alunos de boa conduta, após a missa poderiam passear, almoçar fora em casas de parentes ou amigos, pegar a matinée do Cine Rio Branco, do Cine Palace, ou do Cine Aracaju, e ver as vitrines da rua João Pessoa. Os de má conduta ficavam retidos no alojamento com leitura pré-determinada pela direção. Outro atrativo, aos domingos, era saborear o melhor cachorro-quente da cidade, o de “Seu” João,   pegar um Big Bom da Yara, ou chupar um picolé da sorveteria Cinelândia de “seu”Araujo, que fazia um  delicioso sorvete que era vendido com gostos os mais variados. O sorvete que eu mais apreciava era o de mangaba. 

Por ocasião dos festejos natalinos, concentrados no Parque Teóphilo Dantas, tínhamos dificuldades de pegar no sono, por causa do apito do Carrossel de “Seu ” Tobias, e com a algazarra dos apostadores das inúmeras roletas, bancas de pio e baralho, instalados no fundo da Catedral. 

Nessa ocasião, me dava uma vontade danada de sair , para ver as gatinhas que ficavam desfilando da frente da Catedral até a Yara, indo e voltando,  até as nove horas da noite – momento em que a “onça era solta” e toda o mundo ia pra casa. 

A disciplina e os ensinamentos religiosos, éticos e morais, que eram ministrados por D. Judite e o Professor Benedito, foram o ponto alto do Colégio que fez história na educação em Sergipe. Alagoanos, os mestres receberam em vida grandes homenagens ainda em vida pelos assinalados serviços prestados à educação da juventude, inclusive da Assembléia Legislativa que lhes concedeu o título honorífico de cidadã e de cidadão sergipanos. 

ENSARILHANDO AS ARMAS 

O destino me proporcionou a oportunidade de não deixar que o Colégio Jackson de Figueiredo fosse fechado. O casal, já em idade avançada, cansado de guerra, queria ensarilhar as suas armas. 

Como Secretário da Educação, adquiri aquela unidade escolar, transferindo-a para a rede estadual. Eu a transformei em unidade de treinamento de professores, aproveitando toda a sua infraestrutura, quadra de esporte, refeitórios e salas de aula. Na parte voltada para a rua de Maruim, foi instalada uma Escola de primeiro grau.

NO VELHO E QUERIDO ATHENEU

 

COLÉGIO ESTADUAL ATHENEU SERGIPENSE

Não era muito fácil ser aluno do velho Atheneu. E eu tive a sorte de ter sido um de seus alunos.  Prédio imponente, dezenas de salas de aula, a cátedra sendo exercida por professores do mais alto gabarito,  famosos e competentes, os quais, eram vistos e respeitados como verdadeiras sumidades em conhecimento, cultura, autoridade moral e didática. 

No primeiro ano, peguei como professor de matemática, José Rollemberg Leite, ex-governador, cuja presença na sala de aula significava respeito e autoridade. Impunha-se, também pela forma objetiva e prática como ministrava suas aulas. Alguns anos lá na frente, eu me tornaria  ( em 1975), como deputado estadual, seu Líder na Assembléia Legislativa, e grande amigo, quando de sua última ascensão ao Governo do Estado. Fui por ele desafiado na primeira prova de geometria no espaço. Não tendo me saído bem nessa prova, em plena sala de aula, e na presença de todos os colegas, levei do professor José Leite um carão que me deixou seriamente encabulado. Prometi a mim mesmo que ele mais nunca me faria uma desfeita daquelas. Estudei com afinco, sem descanso, e daquele dia em diante só tirei nota 10 em matemática.

Quero registrar que, para que eu chegasse a esse nível de excelência em matemática – e, por isso, passei a receber elogios do professor Rollemberg – muito devo às aulas extras que recebi do meu amigo e colega Antonio Freitas, o qual, espontaneamente, ficava comigo nos intervalos passando exercícios e corrigindo as minhas falhas. 

A MAESTRIA E A PERSONALIDADE 

A professora Ofenísia ensinava português, encantando a todos com a sua didática simples e eficiente. A sua análise, traduzindo para o comum dos mortais as complexas estrofes dos versos de Camões, facilitando o entendimento, era uma peça didática de um primor sem igual, que deveria ter sido filmada para a posteridade. Se na época tivéssemos o celular aquelas aulas magníficas estariam por certo invadindo as redes sociais. 

A professora Glorita Portugal, lecionava francês, com classe e desenvoltura, chamando a atenção pela finura, pela sua beleza exponencial, e sua elegância no vestir. 

Ver Leão Magno Brasil, líder nato de seus alunos, professor de matemática do  3º ano científico, didática magistral, passo a passo no quadro negro, equações de trigonometria apresentadas com clareza,  que despertavam em todos o maior interesse e empenho por matéria tão atraente, era uma emoção a cada aula. Pra gente guardar e ter na memória a fórmula de trigonometria sen(a + b) = sena·cosb + senb·cosa) e nunca esquecê-la, ele recitava a 1ª estrofe da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá, senoA, cossenoB, senoB, cossenoA …”. Gostava de escrever no quadro negro frases que nos ensinavam as regras do bom viver. Uma delas: “o futuro e o destino do homem no Universo são traçados por ele mesmo.”  Isto é, pelo próprio homem … 

Maria Augusta Lobão, ensinava história desenhando mapas no quadro negro dos povos da idade antiga. As suas aulas conduziam a nossa imaginação para a batalha do Desfiladeiro das Termópilas, para as bravuras de Dario, O Grande, discorria sobre a incrível travessia dos Alpes por Aníbal, general e estrategista cartaginês, com seu exército de elefantes desafiando Roma, a cultura filosófica dos Atenienses e a força guerreira dos Espartanos, as conquistas de Alexandre, O Grande, o lodo fértil produzido pelas enchentes do rio Nilo no Egito dos Faraós, o poderio de Roma e de seus Césares. Destacava o papel da mulher, chamando a atenção para o fascínio irresistível de Cleópatra que conseguiu dominar com os seus encantos os poderosos invasores romanos, os quais conquistaram o Egito, mas que, a exemplo de Marco Antonio, renderam-se à sua beleza escultural … 

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