No dilema entre a saúde e a economia vence a saúde

 O super vírus e o isolamento social

Isolamento social é a expressão mais usada nos últimos dias, notadamente pelo mundo científico, como medida restritiva para evitar a propagação do coronavírus que invadiu o globo terrestre sem dó e sem piedade, não distinguindo classes sociais ou econômicas em seus ataques.

O fato é que o super vírus, que circula livre e à vontade, sem remédio ou vacina que a ciência até agora não descobriu para combater a doença ou frear a sua disseminação destrutiva, continua contaminando e ceifando vidas, com preferência entre os mais velhos, os quais,  por causa da  queda de imunidade, própria da idade, compõem o maior grupo de preocupação das autoridades sanitárias.

Nos Estados Unidos e na Europa, assim como em todo o mundo, o isolamento social é a palavra de ordem das autoridades de saúde, dos cientistas e de seus  governantes.  

O ministro da saúde fala e age com prudência

O bom senso recomenda a quarentena, aconselha o nosso ministro da saúde, apesar de a toda hora e a todo instante sofrer contínuos constrangimentos por parte da conduta do chefe do governo, o presidente Jair Bolsonaro. 

Repare que, neste momento de suprema preocupação do brasileiro e da brasileira,  quando enfrentam um inimigo invisível que pode lhes causar a morte ou, se não morrer,  ficar com sequelas imprevisíveis, o presidente perde a sua grande oportunidade de consolidar a sua liderança, unindo a toda a nação. 

A perda de oportunidade de unir a nação

Afinal, no turbilhão da crise é no seu governo que Estados e Municípios estão a receber recursos milionários, antes nunca vistos, da ordem de R$ 88 bilhões, para amenizar suas finanças, e se armarem para combater o vírus, fortalecendo os seus sistemas de saúde. Além disso, a disponibilização de um auxílio financeiro emergencial, pelo prazo de três meses, no valor de R$ 600,00 para trabalhadores informais e mulheres consideradas chefes de família, beneficiando mais de 24 milhões de pessoas. 

Medidas como essas, que têm o seu aprove-se, sua iniciativa e sua assinatura, publicadas no Diário Oficial da União, que ajudam as camadas mais pobres da população geram simpatias e dão boa imagem a qualquer governo, que são menosprezadas por conta de seus embates infrutíferos e tresloucados. 

 O presidente poderia portar-se como um estadista, interpretando o sentimento da maioria da nação, se soubesse completar essa sua ação solidária, caminhando no rumo certo para proteger a população, liderando um movimento, sem cunho ideológico, populista, ou partidário, em favor do Brasil, harmonizando-se com o procedimento de líderes mundiais que enfrentam com equilíbrio e firmeza em seus países o drama da crise que ultrapassa fronteiras e assombra o mundo. 

A teimosia e a imprevisibilidade

No entanto, contrariando toda a lógica pregada pelos setores ligados à saúde, e que é aceita pacificamente por imensa maioria de nossa população, o presidente parece desligar-se da realidade, com a sua obstinação em não querer cumprir as regras normais de uma sociedade global e solidária,  escolhe rebelar-se publicamente enfrentando a tudo e a todos. A regra que o satisfaz é a da imprevisibilidade. 

Querendo ou não, dá um mau exemplo com o seu comportamento, ajudando a disseminar a discórdia dentro e fora de seu governo, e, por via de consequência, a propagação mais rápida do vírus. 

Os aliados postam-se do outro lado, custando-lhe o isolamento político

Por incrível que pareça, ainda não lhe caiu a ficha do seu despropósito, apesar das evidências. Eis que , o seu maior aliado, Donald Trump, presidente dos EUA, ao pressentir que o seu grande país estava se tornando o epicentro da pandemia  jogou logo a toalha,  reconheceu a gravidade da situação, passando a apoiar publicamente a quarentena anunciada nos Estados, e a adotar, ele próprio, medidas restritivas de concentração coletiva. 

Além disso, internamente, mostrando não concordar com suas teses fundamentalistas, o seu ministro plenipotenciário, Paulo Guedes, rendeu-se aos argumentos do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, preferindo ficar em casa para proteger-se,  enquanto espera a evolução da doença no Brasil.

Em videoconferência com membros da CNM, disse Paulo Guedes: “Eu, como economista, gostaria que pudéssemos retomar a produção. Eu, como cidadão, ao contrário, aí já quero ficar em casa”. 

Como se vê, o presidente perde fora e dentro do governo. Ainda bem que a sua opinião, a respeito da ação desse microrganismo desprezível, para ele pouco letal, mas que é responsável pela pandemia no mundo inteiro, não tem sido levada a sério.

Todos estão bem informados, o mundo é pequeno, a instantaneidade das notícias se propaga com uma velocidade maior do que a do vírus. 

No Brasil, como reconhece Paulo Guedes, o isolamento em face da Covid -19, deverá ocorrer até o final de junho. Daqui até lá a economia vai sofrer abalos tremendos, segundo palavras dele próprio, “a economia desaba”.

Em contrapartida, por ser o sistema de saúde do Brasil reconhecidamente precário, neste período  de isolamento, vai se estruturando melhor para atuar com maior eficiência na assistência aos enfermos que vão aparecer nos picos da doença, evitando a expansão descontrolada do vírus assassino neste momento de evidente despreparo de nossa rede pública de saúde. 

O Brasil, o seu povo e a sua economia, passam por uma prova sem precedentes. Haveremos de vencer essa guerra, sejam quais forem os sacrifícios.

Saúde para todos, que Deus nos proteja!

Antonio Carlos Valadares, advogado, ex-governador e ex-senador da República