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RETALHOS DA POLÍTICA – O NEGÃO GANHA O GOVERNO

A  SUCESSÃO DE AUGUSTO FRANCO

A sucessão de Augusto Franco (ano de 1982),  ocorreu dentro de um ambiente de grandes surpresas.

Grupos políticos com fácil acesso ao Palácio Olimpio Campos, com muita capacidade de movimentação e muito poder de fogo, inclusive em determinados setores da imprensa escrita,  foram convincentes e conseguiram envolver Augusto Franco que terminou desistindo de suas preferências pessoais para sucedê-lo. 

Conseguiram, em encontros de cúpula, e em conversas palacianas,  arrancar a indicação de João Alves Filho para governador, até então considerado como adversário número um de Augusto Franco.

A escolha ocorreu da noite para o dia, sem qualquer aviso, provocando um verdadeiro curto circuito na política de Sergipe, para não dizer um choque de elevado potencial, cujos efeitos só puderam ser avaliados e sentidos nas eleições subsequentes.

João Alves nunca se incomodou, antes pelo contrário, até estimulava que o chamassem de “O Negão” , apelido que, sem dúvida alguma, fortalecia-lhe uma aparência de origem humilde, e facilitava sua aproximação com o povo.

Porém, quando de sua indicação para o cargo de governador ele já era um empresário da construção civil de muito sucesso, tinha a fama de bom engenheiro, montara a Habitacional Construções.

Além do mais, seu pai, o construtor João Alves, com o seu próprio esforço tornara-se um grande empresário também do ramo da construção civil.

O fato de ter sido quatro anos prefeito indireto de Aracaju, nomeado pelo governador José Rolemberg Leite, ajudou-o na sua subida ao poder. Na prefeitura, realizou uma obra administrativa de grande porte. Como prefeito  pavimentou ruas, abriu avenidas e melhorou vários bairros construindo praças, escolas e postos de saúde. Cuidou do transporte urbano. 

Pela  competência demonstrada no exercício do cargo – que assumira como um outsider da política -, tornara-se uma séria opção para uma futura candidatura ao governo do Estado. 

A sua indicação para a prefeitura aconteceu por uma lance de sorte, sem que ele sequer estivesse esperando.

José Rollemberg Leite fez primeiro um convite ao então presidente do Banco do Estado de Sergipe, um dos políticos mais fortes daquele período, para que saísse do Banco e viesse ocupar o cargo de prefeito da Capital,  a segunda posição política mais importante, depois do governador. O indicado teria a vantagem de não enfrentar eleição,  tendo apenas de cumprir a formalidade de o seu nome ser aprovado pela Assembleia Legislativa.

Por mais estranho que pareça, Manoel Conde com muito jeito, para não ofender o governador, disse-lhe que se sentia honrado com a lembrança de seu nome para missão tão honrosa, porém, que ajudaria mais ao governo permanecendo no Banco.

Foi quando com muita sagacidade e visão política Manoel Conde teria lembrado o nome do engenheiro João Alves Filho, por quem o governador nutria uma grande admiração.

José Rollemberg Leite, que, na verdade, desejava fazer uma renovação nos quadros do Banese, esqueceu-se por uns tempos de seu intento. Convidou logo em seguida João Alves para o cargo, que aceitou sem pestanejar.

João Alves, provavelmente fez aqueles reparos de costume, que surgem sempre antes de se aceitar um convite tão generoso, e, aquele, provocaria uma grande mudança em sua vida de empresário. Por isso, suponho que João Alves teria dito ao governador que aquela tarefa iria exigir dele quase que uma entrega total, com o perigo de prejudicar as atividades de sua empresa, a Habitacional.

A INDICAÇÃO CAIU COMO UMA BOMBA

Naquela época o governador Augusto Franco tinha do seu lado quase a totalidade dos prefeitos e dos deputados estaduais, quase 100% da bancada federal e uma extraordinária aprovação de seu governo, com certeza,  o melhor daquele período anterior ao processo de distensão política do regime discricionário.

Possuía dois canais de televisão, a TV Sergipe e a TV Atalaia, o jornal de maior circulação (Jornal de Sergipe), duas emissoras de rádio, e, economicamente falando não tinha quem se comparasse a Augusto Franco, apesar de não só ele como todos os seus filhos jamais esnobassem riqueza e ostentação.  Agiam no meio social como pessoas simples, relacionavam-se com todas as camadas da população, desde os mais potentados aos mais humildes,  no trabalho e no entretenimento, sem aquela empáfia dos novos ricos.

Doutor Augusto, como era chamado pela maioria dos sergipanos, detinha um poder político visto por todos como incontrastável.  Acredito que ele estivesse ciente de seu poderio, mas, sequer usou-o  em sua própria sucessão, não percebendo que qualquer erro na escolha para sucedê-lo no governo, poderia determinar a sua queda como político e de todo agrupamento que construíra ao longo do tempo.

Por isso, dizia-se nas conversas políticas que doutor Augusto faria governador quem ele bem quisesse, não apenas pelo poder que possuía naquela época, como pelas próprias amarras criadas pela legislação então vigente, que deixava pouca margem para o sucesso das forças oposicionistas comandadas por José Carlos Teixeira e seus correligionários do velho MDB. Existia o voto vinculado, que obrigava o eleitor a votar,  sob pena de nulidade, em toda a chapa, desde deputado federal, governador, senador e deputado estadual.

Ficava mais do que claro de que aquele partido que agregasse mais apoio na capital e no interior, poderia ganhar as eleições como favas contadas. E o partido que mais tinha lideranças do seu lado era justamente o partido do governo, a ARENA. João Alves ao  perceber essa armadilha, saiu do PP de Tancredo Neves,  uma sigla de oposição,  para arranjar um jeito de, no partido do governo, ser um nome capaz de entrar na disputa sucessória onde suas chances seriam melhores. 

NOMES PREFERIDOS PELA ALA DE DOUTOR AUGUSTO

Eu e o senador Passos Porto éramos os preferidos naquele momento das definições, pelas ligações políticas que tínhamos com o grupo de Augusto Franco.

Passos Porto fora deputado federal por várias legislaturas, e conseguia eleger-se porque sabia fazer amigos. Quando as urnas eram abertas, Passos Porto surpreendia a todos com uma perfomance surpreendente. Não tinha dinheiro nem colégios eleitorais para lhe dar suporte eleitoral. Porém, tinha o faro para ir atrás do voto de simpatia. Portava-se como um verdadeiro formiguinha da política, e nunca se indispunha com ninguém. Só vinha a Sergipe no recesso porque tinha verdadeiro pavor de viagens aéreas. Mas, durante suas férias trabalhava sem descanso visitando seus eleitores, na capital e no interior. Fora um dos fiéis seguidores de Leandro Maciel, o maior líder da UDN, no passado. 

O meu nome era no entanto o mais cogitado para uma possível candidatura ao governo do Estado. Havia obtido a maior votação para deputado federal. Convidado pelo governador Augusto Franco, aceitei licenciar-me do mandato para ficar em Sergipe e assumir a Secretaria de Estado da Educação e Cultura. Tinha exercido os cargos de prefeito municipal de Simão Dias e deputado estadual por duas vezes, quando fui eleito pelos meus pares para a presidência da Alese. Com muita dedicação aos estudos consegui me formar em química industrial e direito. Eu me considerava pronto para ser governador se tivesse uma chance.

ALBANO E A CNI

O  fator que mais influenciou a escolha de João Alves foi sem dúvida a pretensão de Albano em ser candidato a Senador. Ele exercia a presidência da Confederação Nacional de Indústria (CNI), um cargo que era sinônimo de poder e prestígio, e o mais ambicionado entre os integrantes da  classe empresarial do Brasil.  A CNI atuava em todos os Estados com muita eficiência e desenvoltura. Essa função também lhe proporcionava muita visibilidade na mídia nacional onde aparecia quase que diariamente. De fato, nenhum outro sergipano ocupara até então cargo tão relevante e dispunha de tanto prestígio não só com os empresários, como também junto a figuras políticas importantes do alto escalão da República. Pela missão que desempenhava na CNI, distanciou-se um pouco da política local, mas pela sua forma cortês de tratar a todos, era visto e considerado como uma pessoa simples, muito simpática, e que despertava um certo orgulho aos sergipanos pela posição que ocupava no cenário nacional. Tinha o seu lugar guardado para ser um dia o governador de Sergipe, como de fato foi, por duas vezes seguidas.

Colocaram na cabeça de Augusto Franco que Albano só poderia ser eleito senador se entregasse o governo a João Alves.

O TEMOR DE ALBANO E O FANTASMA DO RISCO

Quem conhece de perto Albano Franco sabe o quanto ele sempre teve bastante  dificuldade em assumir posições que ele, na sua avaliação, possam ter qualquer risco. Essa cautela exagerada de Albano deve ter pesado e muito na decisão de seu pai em apoiar João Alves. 

Segundo a argumentação dos defensores dessa tese – que terminou sendo a vencedora nas conversas de bastidores, e na definição do candidato -, Augusto Franco não poderia eleger um governador do seu grupo, e, ao mesmo tempo,  levar para o Senado o seu filho, Albano Franco. Seria muito arriscado, argumentavam os defensores de João.

Cosme Fateira, um amigo do senador Passos Porto e da família Franco, conhecido por ser desbocado e irreverente, inconformado com a escolha, e achando que o governador tudo podia, saia falando aos quatro ventos: “doutor Augusto na hora de fazer a escolha se precipitou, devia ter escolhido o outro “Negão” e tava tudo certo …”. O outro “Negão” a que ele se referia era o motorista de Augusto Franco há mais de 40 anos. 

Viu-se nos episódios do futuro que João Alves, ingressando como um outsider,  na vivência do dia dia, e na prática da governança, adquiriu experiência para saber lidar com o mundo da política, e  mostrou competência, coragem e determinação para alcançar o topo que fora ocupado pelos líderes maiores do Estado de Sergipe. 

Cometeu-se um erro político que lá na frente iria repercutir em desfavor da família Franco, e no fortalecimento e consolidação do engenheiro João Alves Filho, o qual,  se afeiçoou logo ao poder, soube como poucos atrair lideranças para o seu lado e construir uma áurea de invencibilidade em muitas eleições que disputou até a sua retirada da política, por motivo de saúde.

No próximo capítulo, a escolha do vice-governador de João Alves.

ACV

O FÓSFORO E O BARRIL DE PÓLVORA

 

BOLSONARO ENSINA A ARTE DE ATIRAR NO PÉ

 

Quando as coisas estão calmas o mercado não grita nem diz nada. As bolsas se valorizam, os juros se acomodam, as empresas produzem mais, os empregos aparecem, e o Brasil melhora a sua economia. 

De repente, vem o presidente, fala o que não deve, seja no Brasil, ou nos EUA, e tudo volta à estaca zero. O invisível e poderoso mercado, que também se alimenta de crises para aumentar os seus lucros, mostra logo os seus tentáculos, fazendo aumentar os juros e o valor do dólar, enquanto recrudesce o desemprego,  aumenta a cesta básica e a inflação. 

A reforma da Previdência, antes cantada em prosa e verso como a salvadora da Pátria, de repente, deixa de ser prioridade para o presidente, porque se mostra politicamente incapaz de construir no Congresso uma base aliada que tenha boa vontade para sustentar e defender seus projetos.

Por causa dessa mudança de foco, de desvio do rumo traçado  e do humor inconstante do presidente, até essa galinha de ovos de ouro, a reforma da Previdência, prometida tantas vezes  por ele e  seu ministro da economia, se transforma numa simples galinha poedeira, cujos ovos apenas ficam mais caros, e produz mais inflação com o distanciamento cada vez mais evidente de Bolsonaro da questão previdenciária. A Reforma só vai haver se a Câmara assumir o fardo, e se o seu presidente Rodrigo Maia (DEM), resolver liderar a sua aprovação. 

Não votei em Bolsonaro, mas, sinceramente torcia e torço, para que o Brasil acerte o passo, e que a sua economia volte ao seu ritmo normal, a produção retome o seu crescimento e os empregos que perdemos desde a crise americana iniciada em setembro de 2007 com o nome de subprime, e o desastre da política econômica no Brasil em 2011. Que surjam novos postos de trabalho no horizonte do Brasil. Que possamos vencer esse número vergonhoso e catastrófico de 13 milhões de desempregados.

A sociedade civil está perplexa com a fraqueza intelectual, com o despreparo e o desequilíbrio emocional do presidente. Ao não conter as suas emoções Bolsonaro ensina a arte de atirar no pé. Aceita mexer no orçamento da União e aponta o gatilho para atirar nas Instituições de Ensino Públicas, achando que os seus gastos são incompatíveis com as nossas receitas, e não enxerga que educação, não é gasto, e, sim, investimento. Posso apontar no mundo inteiro dezenas de nações, como a Noruega (que era uma das mais atrasadas da Europa) que derrubaram o desemprego e a pobreza, adquirindo um nível de bem estar social invejável, porque incluiram como prioridade nos seus orçamentos  investimentos em favor da educação, pesquisa, inovação e tecnologia. 

AMEAÇA VERMELHA 

Todavia, o embate que agora se trava dentro do governo e entre os grupos que o apoiam, é que as universidades são um antro de agitadores esquerdistas, que nada produzem e só pensam em introduzir no Brasil o comunismo. Esse discurso é tão antigo e ultrapassado que lembra o macarthismo dos anos 50 nos Estados Unidos, que ficou conhecido como a segunda ameaça vermelha, em cujo período gerou-se uma onda de radicalismo e denúncias infundadas de traição, em nome de um suposto amor à Pátria, e que conseguiu dividir a sociedade americana, instalando o denuncismo, e o medo do perigo marxista. 

As ideologias estão morrendo e cedendo lugar a um novo Estado que garante a paz, crescimento,  a felicidade do emprego e o combate à fome. 

O FÓSFORO E O PATRIOTISMO MASCARADO

Dando a impressão aos incautos que professa o respeito à Bandeira e ao Hino Nacional, para fortalecer o amor à Pátria, coisa que aprendemos na Escola regular e na Escola da vida, o presidente, na hora do aperto se esquece de que a Pátria somos todos nós, e não ele só, pois, não considera, e devia considerar a quem não pensa como ele. Todos veem que, com o seu patriotismo mascarado, agride jornalistas que lhe fazem perguntas incômodas, chama manifestantes de idiotas úteis, assina decreto de disseminação das armas sem ouvir o Congresso, e, no caso do seu filho eleito senador, ao invés de estimular as investigações, se vitimiza, desafiando a Justiça e o Ministério Público que venham pra cima dele … 

Paciência presidente, não queremos no Brasil nenhum movimento parecido com  a ameaça vermelha dos Estados Unidos, apesar de sua afinidade com Trump e a desastrosa política americana, e  a continência ridícula à sua bandeira.

 

A última vez que movimento semelhante surgiu no Brasil,  serviu de pretexto para o golpe de 64. 

Querendo ou não, o presidente Bolsonaro, com sua conduta imprevisível e com seu linguajar de confronto, está acendendo fósforo num barril de pólvora, sem aquilatar para as consequências de que se houver a explosão ele próprio pode ser alcançado.

Ainda bem que os militares estão longe de pensarem em provocar uma explosão contra a democracia. 

ACV

 

VUCO VUCO – BOLSONARO, O INTOLERANTE

 

INTOLERÂNCIA

O presidente Bolsonaro corta as verbas da educação, sem nenhum aviso, sem nenhuma consideração, e, mesmo assim, comete o desplante de chamar de idiotas úteis manifestantes que clamam por mais recursos e por um ensino de qualidade. Que país é este? Foi por essa democracia intolerante que o eleitor brasileiro deu seu voto?  Jair Bolsonaro ultrapassou as medidas do respeito às manifestações civis, à divergência, ao contraditório, à  tolerância, sem as quais a democracia no Brasil estaria sendo sepultada. O governo está claramente demonstrando o seu viés autoritário a cada momento em que aparece alguém protestando. 

AUDIÊNCIA DE BOLSO E BELI 

A audiência do governador com o presidente Bolsonaro foi uma boa jogada de marketing, que teve efeitos positivos para quem foi de pires na mão reivindicar obras e recursos para executá-las. Durante uma semana a mídia só tocava nesse tema, como se alguém que  aparentemente fosse contra o sistema, e, de repente, aparece trocando gentilezas portando a bandeira da paz, em nome dos “altos interesses da sociedade” .  O encontro era necessário sim, mas fazer aquele estardalhaço de que um novo mundo poderia surgir, tenha paciência!

QUERO-QUERO

E, se não der certo? Se não der certo a conta ficará no colo de Bolsonaro.  Belivaldo poderá no futuro dizer, se o dinheiro não sair, que pediu, e o presidente negou. Vítima do governo Bolsonaro. Discurso de campanha. Afinal, o tapete vermelho foi colocado na entrada da audiência ao governador visitante,  e, como sinal de que os cofres seriam abertos para Sergipe foram convocados vários ministros para receber os pleitos de Belivaldo. O encontro só serviu para encher a mídia de notícias otimistas sem a mínima certeza do cumprimento pelo presidente. 

O que ficou claro na audiência, foi que, o presidente quer votos para a reforma da Previdência que Belivaldo não tem, e que, o  governador quer recursos financeiros para o Estado que Bolsonaro não tem.

GOVERNO DESARTICULADO

A desarticulação política do governo Bolsonaro provoca mais uma derrota na Câmara dos Deputados. Ministro da Educação Abraham Weintraub foi convocado para explicar o bloqueio das verbas para as Universidades Públicas. A Bancada do Centrão, composta de 250 deputados, de um total de 513 membros da Câmara, está fazendo corpo mole, deixando a coisa rolar para que o presidente se vire e atue pessoalmente para formar uma base sólida e assegurar a governabilidade, até agora não alcançada. Presidencialismo de coalizão como é o do Brasil,  todo chefe de governo ou negocia com o Congresso ou não vai pra frente. A participação dos partidos no governo é legítima em todo o mundo democrático. A escolha dos melhores não é fisiologismo nem sinal de corrupção. O presidente está confundindo as bolas, preferindo uma posição isolacionista, para não dizer individualista, como se, sozinho pudesse governar. O errado é comprar apoio com cargos. 

ESQUENTA A RELAÇÃO

A relação do governo federal está esquentando e chegando a uma situação de distanciamento com os líderes. O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) e Arthur Lira (PP-AL),  foram convidados pelo presidente Bolsonaro para uma reunião no Palácio do Planalto e recusaram-se a comparecer. O presidente ficou só tomando água e cafezinho esperando-os até que chegou a hora da viagem aos EUA, e foi para o aeroporto muito chateado. Os deputados mandaram dizer que para evitar especulações de que estariam atrás de vantagens como cargos ou posições no governo, por enquanto é melhor evitar conversar com o presidente, o qual, insinua a toda hora que todo deputado é fisiologista e que ele veio para mudar essa prática. Desse jeito, em pouco tempo o café vai ficar frio e pouca gente vai aparecer lá no Palácio. Quem está provocando esse mal-estar é a própria república bolsonariana que está no poder, na qual o chefe se acha a Providência Divina, e pensa que aprova tudo no Parlamento sem dar a mínima atenção aos deputados. 

BRASIL NO FUNDO DO POÇO

O Brasil está novamente às portas de uma recessão econômica. A queda no setor de serviços e o desemprego alarmante em todos os setores da atividade econômica, como na indústria e no comércio, estão deixando nervosos os aliados de Bolsonaro.  Ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que o Brasil está no fundo do poço em Comissão da Câmara dos Deputados. 

ARMAS LIVRES

Decreto de armas de Bolsonaro pode sofrer revés no STF. Já existem várias ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) tramitando na Suprema Corte, sob a vigilância e a interveniência do MPF.

EMPRESAS ESTÃO QUEBRANDO EM SERGIPE

Recebo a informação de um empresário do ramo da construção civil, de que cerca de 70% das empresas que trabalhavam para o Estado quebraram por falta de pagamento, enquanto que, as que ainda restam, se negam a participar das licitações.

 

LICITAÇÕES DESERTAS EM SERGIPE, NO ESTADO E NOS MUNICÍPIOS

As licitações do Estado e de quase todas as prefeituras não valem a nota de um conto; na maioria dos casos as licitações ficam desertas, sem o comparecimento de nenhum concorrente. Pelo andar da carruagem o rombo é maior do que o informado por Belivaldo quando esteve na Assembléia falando aos deputados.

Tempos sombrios para a classe empresarial sergipana.

DEMISSÕES EM MASSA EM EMPRESA TERCEIRIZADA DA DESO, POR QUE?

Uma abelha zuou no meu ouvido que a DESO mandou uma terceirizada demitir dezenas de empregados que estariam cobrando por fora valores absurdos para fazer ligações domiciliares no Sertão. Se foi assim, e se foi por isso, a Deso tem toda razão. 

ACV

RETALHOS DA POLÍTICA-BATISTÃO & POLÍTICA

Começo discorrendo um pouco sobre três personalidades políticas com as quais convivi no início de minha vida política.

AUGUSTO FRANCO

Augusto Franco,  começou a sua militância política já em idade madura, no ponto em que muitos políticos de sua idade já haviam percorrido mais da metade do caminho. Mas quando resolveu ingressar na carreira, o fez com muito equilíbrio, aplicação e grande dedicação.

Só depois que eu vim morar em Aracaju para exercer o cargo de deputado estadual, passei a ter com ele uma convivência mais próxima. Vivendo entre Aracaju e Simão Dias cumpria minha missão política, dedicando-me na Alese para cumprir o meu mandato com dignidade, e, ao mesmo tempo, cuidar de Simão Dias, enquanto procurava dar assistência e ação de presença nos municípios vizinhos, como Tobias Barreto, Lagarto, Poço Verde, Pinhão e Pedra Mole.

Doutor Augusto foi escolhido governador, em 1978. Neste mesmo ano fui eleito deputado federal, o mais votado, depois de passar oito anos como deputado estadual. Estávamos no final do Governo de José Rollemberg Leite e eu exercia o cargo de Presidente da Assembléia Legislativa. Para ajudar nas composições políticas, a pedido de doutor Augusto, apoiei os candidatos a deputado estadual Antonio Néri, de Tobias Barreto e Augusto Ribeiro, de Lagarto, que foram eleitos.

Da mesma forma como a escolha de seus antecessores, Lourival Baptista, Paulo Barreto de Menezes e José Rollemberg Leite, a ascensão do então senador Augusto Franco ao governo do estado teve a participação e o aprove-se do governo militar. Seu prestígio junto à cúpula política daquele período e a aceitação pacífica de seu nome pelo governador José Rollemberg Leite, da esmagadora maioria das bancadas de parlamentares federais e estaduais, serviram para pavimentar a sua caminhada ao poder executivo.

Houve muita luta de bastidores para impedir a sua indicação na sucessão anterior, mas dessa vez as divergências desapareceram, conquistando o governo de forma pacífica sem qualquer reação da classe política.

Em outro momento falarei mais detidamente sobre o ex-governador Augusto Franco, político e empresário bem sucedido. Tratava-se de um homem que agia na política com muita eficiência e objetividade. Exerceu o poder com a visão de um empresário que não podia falhar como governador. Tinha verdadeira obsessão pelo trabalho.  O slogan de seu  governo, criado pelo seu competente secretário de comunicação Theotônio Neto se ajustava como uma luva à sua personalidade: “O Futuro é Agora”. Augusto Franco tinha pressa pra chegar e resolver.

JOSÉ ROLLEMBERG LEITE

José Rollemberg era uma pessoa admirável, um político correto e respeitado por todos os sergipanos, por sua conduta ética e equilibrada.

À primeira vista fechado e inacessível, no entanto, quem dele se aproximava logo se encantava com o seu bom humor e as suas opiniões calcadas em muitos anos de experiência na política. Fui o seu líder na Assembléia Legislativa. Para me eleger presidente da Assembléia Legislativa contei com o seu apoio e o de toda a bancada do governo.

Não teve dificuldades para exercer o cargo de governador. Os recursos eram escassos, a ajuda federal não aconteceu no volume dos governos anteriores, mas fez uma administração honesta e operosa. Com recursos próprios construiu o Tribunal de Justiça na Praça Fausto Cardoso e o Terminal  Rodoviário, um prédio moderno e de boa aparência, cuja modelo arquitetônico serve até os dias de hoje como um ponto de destaque e referência no panorama urbano de nossa Capital.

Deixou o governo com as finanças organizadas para o seu sucessor  sem nenhuma pendência que pudesse causar danos ao equilíbrio fiscal do Estado.

LOURIVAL BAPTISTA

Lourival Baptista que, em outros tempos fizera movimentos de reação contra a figura de Augusto Franco, terminou acomodando-se à realidade. Afinal, deve ter penetrado na alma daquele político sagaz a lembrança da época em que Augusto Franco abriu-lhe as portas de São Cristóvão para que ali, na fábrica de tecidos, pudesse exercer a sua profissão de médico.  Foi, a partir daí que nasceu uma nova figura de político que, vindo da Bahia, onde nascera e se formara, conquistou muitos mandatos em Sergipe. Lourival, que tinha um jeito alegre de se aproximar das pessoas, e o dom de conquistar adeptos para a sua causa, costumava dizer em relação à sua saúde , longevidade e a arte de fazer amigos, que vivia bem porque “não fumo, não bebo e não tenho raiva”.

Lourival ganhou amigos e adversários, alguns dos quais se tornaram inimigos que espumavam ódio,  mas nunca se gabava, nem comentava sobre alguma maldade que fizera contra alguém. Portava-se como se nada tivesse feito para prejudicar os outros.  Na maior inocência, coçava o bigode, e às vezes reclamava “não sei até hoje porque fulano tem raiva de mim, nada fiz contra ele …” .

Quando inaugurou o Batistão, em 9 de julho de 1969, trouxe a seleção brasileira com o elenco principal quase completo – Pelé, o sergipano Clodoaldo & Cia. Foi uma festa do arromba. Luiz Gonzaga, que fez uma baião homenageando o Estádio e Dominguinhos , se fizeram  presentes àquele evento. Eu ainda hoje vibro com a apresentação espetacular da equipe da seleção canarinha que venceu a seleção de Sergipe pelo placar de 8 a 2.

Lourival deixou o governo com uma popularidade imensa, mas teve grandes dificuldades para emplacar na cúpula política a sua candidatura ao Senado. Ganhou por apenas um voto a convenção partidária. Quem sobrou foi José Rollemberg Leite. Dizia-se aos burburinhos que Lourival só ganhou porque o candidato José Rollemberg Leite, tão ético e honesto que era, votou em branco para não sufragar nas urnas o seu próprio nome … No empate, pela idade, Lourival teria perdido.

ACV

 

RETALHOS DA POLÍTICA – FILHO DE UM PLANTADOR DE ALGODÃO ELEITO GOVERNADOR

TANCREDO NEVES PRESIDENTE

Entre os anos de 1983 e 1984 surgiu no Brasil um movimento cívico-político  pelo retorno às eleições diretas, quando foram organizados comícios gigantescos que expressavam com toda clareza a vontade da Nação  em imprimir novos rumos à forma de escolha de seus representantes no Congresso e no Governo.

O processo de escolha de nossa representação popular então vigente, tinha o objetivo de manter a cada eleição o status quo do regime militar implantado em 64. Criara, dentre outros instrumentos autoritários, as eleições indiretas, o senador biônico, a sublegenda e o  voto vinculado.  

A emenda Dante de Oliveira desencadeou esse sentimento de mudança empolgando todo o Brasil.

Todavia, apesar da  pressão popular exercida nas ruas e nos comícios populares pelas Diretas Já, a Câmara dos Deputados ainda com medo do regime militar agonizante,  rejeitou a proposta de emenda à Constituição das Diretas Já. 

A propositura conseguiu 298 votos, mas por não ter atingido o quorum exigido (320) foi arquivada pela Mesa da Câmara. Ausentaram-se do recinto da votação nada menos de 113 deputados, enquanto apenas 65 disseram não à proposta. Viu-se, pelo resultado que, mesmo na eleição indireta, se não houvesse um golpe, a oposição, impulsionada pelo sentimento popular de mudança, poderia dobrar o cabo da boa esperança e vencer o candidato do governo militar no Colégio Eleitoral.

O Colégio Eleitoral operava na União e nos Estados, elegendo, pelo processo indireto, Presidentes da República, Governadores e Senadores “Biônicos”. 

Mas, pela primeira vez, com a criação da Frente Liberal formada por lideranças que romperam com o governo, surgiu  uma possibilidade concreta de se eleger no próprio Colégio Eleitoral, até então intocável, um candidato a presidente das hostes da oposição. 

Dentro desse quadro que sensibilizava toda a Nação, fui o primeiro político da ala governista no Estado de Sergipe a engrossar fileiras daquele movimento de restauração completa da democracia. Essa aliança, formada por lideranças de diversas correntes que lutavam pela mudança do regime, passou a ser intitulada de Aliança Democrática.

Exercendo o cargo de vice-governador de João Alves, tomei a iniciativa de ir a  Belo Horizonte,  para manifestar o meu apoio a Tancredo Neves, então governador de Minas, que tomara a decisão de se afastar do governo do Estado, no início de abril de 1985, para tentar viabilizar sua candidatura pelo processo indireto que fora imposto pelo regime discricionário durante mais de 20 anos. Essa posição que eu adotei em relação ao regime me colocou na marca da ascensão na política.

COM TANCREDO NEVES

O governador João Alves preferiu adotar a estratégia de permanecer governando sem  manifestar apoio explícito a Tancredo nessa primeira hora, resguardando-se para em outra oportunidade definir sua posição quanto ao problema sucessório no Brasil.

Ele considerou a minha posição como  gesto de coragem e de afirmação cívica. Era visível a alegria de Tancredo ao receber naquele momento o apoio de um vice-governador do Nordeste quando nada ainda estava definido em relação ao futuro do Brasil. Sem sabermos qual a reação dos militares diante de uma disputa política que se vislumbrava dentro do próprio Colégio Eleitoral criado pelo regime para se manter no poder. Falava-se até em golpe de Estado para conter o ímpeto de mudança que estava tomando conta do Brasil.

Quando cheguei em Belo Horizonte, tendo ao meu lado o ex-deputado federal e Secretário de Estado de Justiça Tertuliano Azevedo,  lá encontrei me aguardando Jackson Barreto, Benédito Figueiredo e Rosalvo Alexandre. Todos felizes com a minha atitude de engajamento na luta pela restauração plena de nossa democracia.  Fomos todos juntos ao encontro histórico com Tancredo Neves, para selarmos o acordo de apoio à sua candidatura à presidência.

A reunião aconteceu no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador. Recordo-me, com emoção, a forma entusiástica como fui recebido pelo então governador Tancredo Neves, um dos símbolos da resistência ao regime militar, tribuno portentoso, uma figura admirável. Abraçou-me pronunciando palavras para todos ouvirem de agradecimento pelo meu gesto de apoio.

BANDEIRAS VERMELHAS 

Aquele apoio, na primeira hora, à candidatura de Tancredo significou um passo da maior importância para minha futura candidatura ao governo do Estado. Facilitou, sem dúvida alguma, a somação, em torno do meu nome, das chamadas forças progressistas, (partidos de esquerda: PSB, PCdoB e PC) ), que, motivadas, subiram no meu palanque, ergueram suas bandeiras vermelhas nos nossos comícios e passeatas durante a campanha para o governo do Estado, em 1986. Essas forças lutaram bravamente pela minha vitória.

No início da campanha comecei nas pesquisas com 7%, e ao seu final, uma vitória insofismável, com uma diferença de mais de 50 mil votos. 

ANTES, CAMPANHA DE PREFEITO EM ARACAJU

Em 1985, realizaram-se as eleições municipais nas capitais cujos Prefeitos anteriormente eram nomeados pelo governador. 

Fui o coordenador político da campanha que levou Jackson Barreto à Prefeitura de Aracaju. Teve uma vitória indiscutível, derrotando o candidato dos Franco, Gilton Garcia, por uma larga margem de votos. 

Gilton fora um Deputado estadual muito atuante. Cassado injustamente pela ditadura, passou alguns anos fora da política cuidando de sua banca de advocacia, e pretendia retornar à vida política como prefeito da capital. O meu amigo Gilton Garcia, ex-UDN, como meu pai, filho de um governador pacífico e trabalhador, reapareceu  na hora errada, justamente quando surgia um novo ciclo da política em nosso Estado e um novo agrupamento político, sob o comando do governador João Alves Filho, no qual eu e Jackson Barreto estávamos inseridos e crescendo.

A SUCESSÃO DE JOÃO ALVES, PEDRAS NO CAMINHO

No início de 1986 a sucessão estadual, puxada pelo MDB já começava a ser discutida. José Carlos Teixeira, presidente do partido, que fora nomeado, pelo Governador João Alves, em 1985, para exercer o cargo de prefeito indireto de Aracaju,  em substituição ao Prefeito Heráclito Rollemberg que também alimentava o desejo de entrar na disputa sucessória. 

Até às vésperas da escolha do candidato, eu preferia, pessoalmente, não concorrer ao cargo de governador, e, sim – já que eu exercia o cargo de Vice-Governador – substituir o titular, no caso de uma natural candidatura de João Alves a Senador da República. 

Aconteceu que o PFL, que detinha o comando do Estado, não aceitava em nenhuma hipótese candidato de outro partido para sucessão governamental. 

Na tentativa de resolver a sucessão de forma pacífica, sem brigas ou dissidências, o governador João Alves promoveu uma reunião no Palácio Olimpio Campos, da qual resultou um documento assinado por todos os presentes. Esse documento delegava ao Governador João Alves e ao Prefeito Jackson Barreto a indicação do candidato a Governador. Estando presente àquela reunião, anotei que dela também participaram, além do Governador e do Prefeito, José Carlos Teixeira, Seixas Dórea e Benedito Figueiredo. 

ZÉ CARLOS ROMPE ACORDO  

VIRA A MESA  E EMBOLA  A SUCESSÃO

No dia seguinte, mesmo diante do compromisso assinado, José Carlos já anunciava o rompimento do acordo político. Começou a telefonar pela madrugada a dentro avisando a seus correligionários. 

A corda esticou de tal modo que, dentro em pouco os dois partidos maiores do Estado, PFL e MDB, estavam em lados opostos.

Para unir totalmente o MDB contra nós, só faltava que José Carlos Teixeira – que já tinha o apoio explícito dos Franco -, aceitasse o nome de Benedito Figueiredo para vice-governador  na sua chapa. A indicação de Benedito partira do Prefeito de Aracaju, Jackson Barreto, a estrela política sergipana em ascensão. 

Pra decidir quem seria o vice, foi realizada na Assembléia Legislativa do Estado, no antigo Palácio Fausto Cardoso, uma reunião dos delegados e das lideranças do MDB.  A convenção do MDB,  ajudou-me a articular o apoio de JB, cujo candidato a vice-governador foi rejeitado pelos delegados, e a escolha do nome para ser companheiro de chapa de José Carlos, recaiu no preferido dos Franco, o ex-Senador Passos Porto, um homem de bem, porém, representativo da oligarquia que se queria derrubar.

Sabendo da insatisfação de Jackson e Benedito com a decisão do PMDB, depois de combinar com o governador João Alves – o qual já havia me confidenciado que não sairia do governo – procurei a ambos e ofereci-lhes a vice na nossa chapa. O convite foi aceito imediatamente. O prefeito Jackson  Benedito, preterido pelo seu partido na indicação do vice,  apontou o nome de Benedito Figueiredo, integrante do PSB, para compor a nossa chapa majoritária.  O nome de Benedito foi aceito sem restrições. 

Jackson e o seu grupo, haviam pedido desfiliação do MDB. Conseguimos dividir o MDB ao meio, e, com isso, enfraquecer a candidatura de José Carlos Teixeira. 

A VITÓRIA DO POVO

Criado o cenário favorável à minha candidatura, disputei a eleição, enfrentando o poder econômico e político da família Franco e da família Teixeira, as mais poderosas do Estado.

Ganhei na Capital e no interior com mais de 50 mil votos de frente. Foi uma campanha inesquecível.

Da coligação que me elegeu participaram, além do PFL, que era o meu partido, o PSB, o PCB e o PCdoB. 

O MDB de José Carlos Teixeira ganhou as eleições pra governador em todos os Estados  brasileiros, menos no estado de Sergipe.

Fui eleito governador aos 43 anos de idade. Um filho de plantador de algodão do Povoado Pau de Leite, do município de Simão Dias, chega ao governo pela vontade soberana do povo sergipano.

Leia no próximo capítulo,  “O Negão Ganha o Governo”

 

 

A BALA DE PRATA E O AMOR À 1ª VISTA DE BOLSONARO

A AUDIÊNCIA E A INCERTEZA 

A ida do governador Belivaldo ao palácio do planalto para conversar com o presidente Bolsonaro é fato normal dentro do sistema federativo brasileiro. Faz parte do protocolo entre autoridades representativas da população. 

A audiência, no entanto, pareceu ter mais um objetivo político do que propriamente  administrativo. Longe de afirmar que os princípios republicanos  foram desrespeitados.  

O governador deve estar, através de pessoas ligadas ao governo federal,  afagando o ego do presidente, reconhecendo as suas dificuldades, dando a entender que está do seu  lado na luta pela reforma da previdência, que desceu do palanque, e que deseja iniciar uma parceria construtiva com o governo federal. Se realmente o governador estiver pensando desse desse jeito, ou parecido, não deixa de ser uma mudança da água pro vinho.

É fato que só um governador do Nordeste teve audiência com Bolsonaro, antes da reunião geral, e este governador foi Belivaldo. Vários ministros foram convocados para ouvir e receber os pleitos do governador. Nem por isso, estou especulando que ele esteja aderindo ao presidente Bolsonaro. Pelas circunstâncias em que o estado se encontra, pode se tratar apenas de um gesto de pragmatismo político. 

Então, foi uma reunião de um presidente que precisa de votos de deputados e senadores para aprovar a reforma de previdência,  com um governador que, às voltas com problemas financeiros em seu estado, como nos velhos tempos, ali estava de pires na mão,  pedindo recursos federais a fundo perdido para a execução de obras prioritárias que haviam sido expostas na sua campanha do ano passado, para ele mesmo resolver. 

O presidente não condicionou mas ficou implícito na reunião dos governadores realizada no dia seguinte, de que, ou eles se empenham para que o Congresso aprove a reforma da previdência, ou, caso seja rejeitada ou desidratada, não haverá recursos sobrando  para atender às demandas dos Estados e Municípios.

O governador fez alguns pedidos justamente numa fase de extrema dificuldade que, aliás, tem sido escancarada pelo próprio governo do presidente Bolsonaro.

Em resumo, nem o presidente ficou com a certeza de algum compromisso de apoio de nossa bancada federal, composta de oito deputados e três senadores, à reforma da previdência, nem o governador trouxe na sua pasta de despachos qualquer documento que lhe garanta a certeza de que os recurso solicitados serão liberados. 

Os governadores podem apoiar a reforma da previdência, todavia, quem vota são os deputados e senadores. Na bancada de Sergipe os votos estão ainda dispersos, sem um definição de como se comportarão na hora de apertar o dedo no painel  eletrônico. É preciso contabilizar ainda pra saber quem tem a maioria em questão tão polêmica. Tem-se apenas como certo que o PT não acompanhará a reforma de Bolsonaro nem que a vaca tussa.

AMOR À PRIMEIRA VISTA

A propósito, com a declaração do presidente, confirmada pelo governador de que no encontro entre os dois teria surgido um amor à primeira vista, Belivaldo deveria ter aproveitado clima tão favorável para, não só reivindicar benefícios diretos para Sergipe, como o fez, como também ter exercido o seu papel de liderança regional, propondo soluções definitivas em favor dos Estados que vivem em situação de  penúria financeira crônica há muitos anos. 

Falo de uma proposta de reforma tributária (que sempre defendi no Senado) que poderia ser encaminhada ao Congresso pelo presidente ainda este ano, após a tramitação da reforma da previdência. Depois desta, sendo aprovada ou não nos estritos termos em que foi apresentada pelo governo, finalizado o seu processo legislativo, seria aberto um novo período de debates dessa feita em torno da reforma tributária, uma questão crucial para o equilíbrio das finanças combalidas dos Estados e Municípios, resgatando-lhes, se for aprovada, a autonomia que deveriam ter perante a União, na realização plena das atribuições que lhes são conferidas pela nossa Carta Magna. 

O bolo da arrecadação dos tributos cobrados aos contribuintes brasileiros está em sua maior parte concentrado nas mãos do governo central, restando um percentual insignificante de 24% para os Estados, e de 14% para os Municípios. Essa desproporção na repartição dos recursos entre os entes federados é um dos principais fatores do desequilíbrio fiscal  e, por via de consequência, corrobora com o enfraquecimento do pacto federativo do Brasil. Aos Estados e Municípios  foram transferidas  ações e responsabilidades financeiras sem o correspondente aporte de recursos para cobrir as suas despesas.

Caso se efetive a reforma tributária, acabaríamos com essa dependência crônica em relação ao governo da União, a qual, hoje em dia,  pode ajudar ou não aos Estados, dependendo sobretudo da relação política com o planalto e do tipo de trocas de apoio que é feito na convivência com o governo, como por exemplo, o apoio político que é exigido aos governadores para apoiar a reforma da previdência.

A BALA DE PRATA

Aliás, o governo federal expõe a reforma da previdência como se o país não tivesse outras saídas para a cura de seus males, emoldurando tal reforma com o desespero de alguém que porta um revólver que só tem em sua defesa apenas uma bala, a bala de prata.

Voltando à reforma tributária: tem que ser implementada com urgência.  Só assim alcançaremos a autonomia dos Estados e Municípios, que ficarão livres da dependência humilhante do governo da União, que os obriga a viver de pires na mão atrás de recursos federais.

Com isso, vão sobrar, por exemplo, recursos no Estado de Sergipe para executar suas obras, incluindo aquelas que o governador pediu ao presidente, e completar o que falta para tapar o rombo da previdência, e nunca mais atrasar a folha dos servidores.

ACV

RETALHOS DA POLÍTICA – CROCODILOS & JACARÉS

NA ESCOLA DE QUÍMICA UMA REFERÊNCIA NO BRASIL

Passei no vestibular da Escola de Química Industrial, que funcionava em prédios localizados nas imediações do Estádio de Aracaju, hoje Batistão. Tratava-se de uma escola respeitada em todo o Brasil. O seu diploma era um passaporte para um bom emprego, principalmente na PETROBRAS. 

Em função do prestígio e da fama da Escola de Química, seus alunos eram comumente convocados por instituições públicas ou privadas para suprir as deficiências de seus quadros em disciplinas do campo de exatas como química, matemática e física. Foi desse modo que, no segundo ano de faculdade terminei sendo professor por um período de três  anos, antes de me formar, ministrando as disciplinas matemática e física no Atheneu, colégio onde estudei, e completei o meu curso científico.

Estudava e trabalhava para pagar a pensão de D. Helena, na rua de Pacatuba. Em frente a essa pensão morava uma bela garota com a qual mantinha uma paixão platônica. Era um apaixonado e essa garota nunca soube. A timidez impedia de me declarar. Ficava aguardando a sua saída para o Colégio, e só saia da janela quando a sua silhueta desaparecia da minha vista … 

Ingressei na militância da política estudantil. Fui eleito presidente do Diretório da Faculdade de Química. Montei um jornal que, dentre outras matérias, trazia novidades e artigos sobre a profissão do Químico Industrial. Passei uns tempos fazendo estágio profissional na Refinaria Landulpho Alves, na Bahia. 

VITÓRIA PARA PREFEITO

No último ano de faculdade, fui eleito Prefeito Municipal de Simão Dias, aos 22 anos de idade. Ficava entre Aracaju e Simão Dias,  com muito esforço terminando o curso da faculdade e administrando o município. Quando as aulas na faculdade estavam apertando, o meu vice-prefeito Dermeval Guerra quebrava um galho e me substituía na função de prefeito municipal com muito zelo e lealdade. No final do ano, ao receber o meu diploma de Químico Industrial, fui homenageado pelos meus colegas, que me entregaram a missão honrosa de ser o orador da turma, cuja colação de grau se deu no recinto do Teatro Atheneu, contando com a presença do governador Lourival Batista.                                                   

O TOSTÃO CONTRA O MILHÃO

Quando eu exercia o mandato de prefeito, governava Sergipe doutor Lourival Baptista, em cujo período não tivemos uma boa parceria administrativa, possivelmente por motivos de natureza política. Mas em outras etapas de nossas vidas políticas passamos a ter um ótimo relacionamento. Um figura sábia, esperta e dedicada da lista de grandes políticos de nosso estado. Apoiado pelo regime militar Lourival fez um governo realizador, e, em termos de rodovias foi um dos melhores governadores. Foi de sua iniciativa a construção da rodovia asfaltada entre a BR 101 e a cidade de Simão Dias. 

A eleição municipal que me conduziu à prefeitura de Simão Dias foi uma das mais disputadas entre aquelas que vivenciei em toda a minha carreira política. Lauro Nascimento, meu adversário,  contava com o apoio de todas as forças políticas e econômicas tradicionais do município, inclusive do governador do Estado, filho de Simão Dias, Sebastião Celso de Carvalho e do prefeito Nelson Pinto de Mendonça. Foi uma grande reviravolta na política local, um jovem com 22 anos de idade, conseguir vencer uma estrutura político-partidária fortíssima.

Enfrentei, com muita coragem e dedicação o desafio de lutar por uma mudança nos rumos da administração e da política do município sem saber, por antecipação, qual seria o resultado, e qual seria o meu destino, caso perdesse a eleição. Os analistas políticos do Estado diziam que não havia como o filho de Pedro Valadares ganhar aquela eleição.  Nos comícios eu sempre terminava os meus discursos em tom de luta heróica : “Por isso eu digo ao meu povo, essa é a batalha do tostão contra o milhão!).

Caso o nosso projeto político não lograsse êxito, possivelmente iria me dedicar às  minha profissão de químico na Petrobras, ou em alguma empresa privada no sul do país, deixando de existir como político.  Com 353 votos de frente derrubei o tradicionalismo, ou melhor dizendo, as oligarquias de Simão Dias. A figura de Pedro Valadares, meu pai (que havia falecido há dois anos atrás),  e a presença constante de D Caçula e Zé Valadares,  este já exercendo o mandato de deputado estadual, tiveram influência decisiva naquela virada histórica, uma jornada realmente emocionante (na foto, posse na Câmara de Vereadores).

ADMINISTRAÇÃO E POLÍTICA

Em 1967, quando iniciei o meu mandato de prefeito minhas prioridades: educação e saúde. Abri escolas nos povoados mais distantes; levei para servir ao município uma instituição federal de saúde muito requisitada na época, a Fundação SESP. Certa vez, olhei para a avenida  Coronel Loyola, na época porta de entrada da cidade – que tinha uma pavimentação ultrapassada, de pedras brutas, um grande desafio – e disse pra mim: “se eu puder, será a primeira obra, colocar ali paralelepípedos”. Fiz a obra. Pavimentei quase toda a cidade. Nenhum calçamento era feito sem esgoto. Construí o primeiro conjunto habitacional da cidade, de cem casas. Fiz escolas, estradas, pontes e postos de saúde. 

A política municipal só era quente no período da eleição. Nós éramos chamados de Crocodilos, enquanto que os nossos adversários, sob o comando do ex-Governador Celso Carvalho, eram os Jacarés. Duro no embate eleitoral, experiente, elegante, educado, o doutor Celso, se retirava quase por completo dos atritos do dia a dia logo após o resultado do pleito, quando o seu grupo perdia a eleição. Era luta entre dois grupos políticos que disputavam a preferência do eleitorado e , ao longo do tempo, se alternavam no comando da prefeitura. A paz existia de verdade, nem ameaças, nem perseguições, só se gastava língua e saliva, rolavam buxixos, é bem verdade, mas nunca houve violência para conter o crescimento do outro. Por essa razão é que Simão Dias era conhecida como a Suiça Sergipana.

O BARÃO DO MERCADOR

O avô de Celso Carvalho,  pelo lado materno, provinha de Sebastião de Andrade, o Barão de Santa Rosa,  e pelo lado paterno, tinha parentesco com Joviniano de Carvalho, que foi, na República,  várias vezes deputado federal no início do século XX. Por isso, para expor sua origem nobre eu o cutucava nos comícios chamando-o de Barão do Mercador (Mercador , nome da fazenda de Celso). Mas ele ficava irritado só um pouco com minhas provocações, respondia nos comícios, alteando a voz, que tinha orgulho de sua descendência, e discorria sobre a árvore genealógica de sua família de barões e baronesas…

Em muitas oportunidades, confesso que aprontei muitas armadilhas e criei sérias dificuldades em todas as eleições  para o Dr Celso, deixando-o preocupado e vigiando os meus passos. Ele despertava uma verdadeira paixão entre seus aliados pela persistência e interesse na política, despendendo recursos que, por certo, lhe causaram muitas despesas e prejuízos financeiros. 

Certa vez, por uma dessas distorções da política então vigente, chegamos a pertencer a um mesmo partido, a ARENA. A sublegenda se encarregava de fazer a separação política dos dois grupos. Foi aí que resolvi preparar-lhe um golpe político, um verdadeiro cheque-mate, que expôs com todas as letras a fragilidade e o artificialismo do sistema eleitoral que adotara a sublegenda. Já que ele estava na mesma agremiação política que a nossa – só pela conveniência de colocar-se debaixo do guarda-chuva do governo – e como, pela própria rivalidade local, era impossível o diálogo, cheguei à conclusão de que numa situação esdrúxula como aquela, quem fosse o mais forte, internamente, é que tinha que dar as cartas. E o nosso grupo dentro daquele quadro partidário confuso, era o mais forte para o azar de Celso.

Por seus projetos de conveniências políticas deixou-se encurralar pelo seu adversário que mantinha segura a chave do partido. Nenhum político espere pela benevolência de seu adversário quando este detém o poder de comando para decidir uma questão partidária. 

A SUPREMACIA DO DIREITO DA MAIORIA: CANDIDATO ÚNICO

Veja como tirei Celso de Carvalho de campo naquela partida. Vou contar como foi. Na eleição municipal de 1970, como o nosso grupo tinha maioria no diretório do partido, simplesmente obedeci à risca o que mandava a legislação: apresentei no Cartório Eleitoral a chapa completa do nosso grupo, onde constavam os nomes dos candidatos a Prefeito, a Vice e Vereadores. Celso só poderia ter a sua própria chapa se o nosso diretório a apresentasse. Ora, veja se isso poderia ser fácil! O radicalismo político entre os dois grupos na época era muito grande, afastava as pessoas, criava inimizade entre as famílias, traduzindo em miúdos, o óleo não se mistura com a água.

O próprio governador, Lourival Baptista entrou em ação, convocando-me para uma conversa no Palácio Olímpio Campos, fazendo toda pressão possível, insinuando até que os militares poderiam reconduzi-lo ao governo, permitindo a reeleição de mandatos de executivos. Foi em vão todo esse trabalho de convencimento: naquela eleição o grupo de Celso Carvalho ficou de fora. Não apresentou sequer um candidato a Vereador.

Recebi pressões de todos os lados para que eu registrasse também a chapa dos adversários. Eu entendia que se queriam disputar a eleição, tinham que fazê-lo se filiando a um partido de oposição (MDB), mas com a minha caneta jamais eu poderia contribuir para o trucidamento, para a divisão pública do nosso município, facilitando a vida do adversário que não queria largar o osso do governo, enquanto queria derrubar o nosso grupo …  Eu desejava dar um ponto final nessa verdadeira contrafação da política, de você ser obrigado a dormir com o inimigo, e ainda lhe dar a faca para ser ferido depois. 

Não imaginem como o nosso grupo comemorou a peça que pregamos nos adversários… (na foto, ex-governador Celso de Carvalho).

FOI UM PRÊMIO JUSTO A UM SERVIDOR DO POVO

Na eleição municipal de 1970 o povo de Simão Dias votou para Prefeito no candidato único José Neves da Costa, vereador de muitos mandatos. Tinha um verdadeiro computador em sua memória, sabia pelo nome e sobrenome, onde morava um eleitor, e a que família pertencia. Um homem simples, pobre e honrado. A sua indicação foi a coisa mais justa que poderia ter acontecido. Um justo prêmio a um amigo incondicional não apenas de nossa política, acima de tudo, um servidor do nosso povo. Simão Dias muita devia ao velho Zé Neves. Fez uma excelente administração, o seu mandato durou apenas dois anos, cumpriu com o povo além do que prometeu em campanha. Governou com simplicidade e correção. Contribuiu com a sua ação administrativa e política para a eleição do seu sucessor, José Matos Valadares.

Anos após, assim que cheguei ao governo do Estado, procurei afastar as antigas divergências com doutor Celso e o seu grupo político. Estendi o tapete da conciliação e consegui afastar as rivalidades e mágoas geradas na luta e na fricção política entre Crocodilos e Jacarés. No poder, entendia que tinha de ser magnânimo 

VUCO VUCO – ONDE A PORCA TORCE O RABO

ESTÃO MEXENDO AS PEDRAS DO XADREZ DA SUCESSÃO (2020►2022)


 

 

➤ Vai ser preciso muito contorcionismo por parte da turma do governo aceitar uma candidatura do PT contra Edvaldo. Por outro lado, como ajeitar correntes do PT que se apegam aos cargos como visgo de jaca? Se for tomada mesmo uma diretriz da candidatura própria o partido vai exigir a entrega dos cargos. É aí onde a porca torce o rabo.

►Jair Bolsonaro não sabe o que faz com a briga provocada por filhos, amigos e auxiliares. Melhor chamar o feito à ordem e tocar o governo. Não bastam os 13 milhões de desempregados?

➤ Políticos da base do governo de Sergipe aguardam com uma certa impaciência as nomeações de CC’s que têm aparecido no DO à conta gotas. Dizem que no próximo mês a lista vai se agigantar. Mas há quem afirme que Belivaldo vai apertar os cintos e mostrar a eles o seu pescoço grosso para, enfim, conformarem-se  que o Estado não aguenta. O deputado Garibalde foi uma exceção, apareceu tinta na caneta do governador e o DO rodou pra atendê-lo. 

► A sucessão em Aracaju vai render muito assunto até chegar o Dia D dos partidos, quando então será  batido o martelo das composições políticas,  a partir de abril de 2020.

Ao que parece o prefeito Edvaldo, que pleiteia a reeleição – apesar da mãozinha que JB pretende oferecer-lhe -, não está conseguindo parar o projeto do PT que sonha ocupar o mesmo lugar que um dia fora de  Marcelo Déda (PT), uma liderança que, com carisma e  trabalho, conseguiu ser prefeito da capital por duas vezes consecutivas. Para completar sua brilhante carreira, interrompida com sua morte prematura,  Déda elegeu-se governador em 2006, ganhando a reeleição em 2010.

O problema é que Edvaldo ainda não conseguiu trazer pro seu lado as grandes multidões e se impor como líder dos Aracajuanos, como foram João Alves, o próprio Jackson e Déda. 

Rogério Carvalho vai seguir mesmo a orientação política  de JB? Embora o futuro esteja em aberto, até para nada de novo acontecer no front, no entanto, o senador Rogério parece disposto a facilitar a criação de um novo projeto do PT para Aracaju, com os olhos voltados para o governo do Estado, em 2022. Na Fan Fm o senador foi taxativo: o que JB falar não é importante para os rumos do PT. https://is.gd/kXFFrz

RETALHOS DA POLÍTICA – MARIA BONITA DO CAIÇÁ

Na foto, governador Luiz Garcia

MARIA BONITA, APELIDO QUE D CAÇULA RECEBEU NA ALESE

Minha mãe, conhecida como D. Caçula, foi o braço direito de “Seu” Pedrinho. A casa vivia cheia de gente e era preciso muita paciência para tratar a todos sem desgostar a ninguém. Na nossa casa, primeiro na rua Joviniano Carvalho, e, depois, na rua Presidente Vargas (rua do Coité), vivia abarrotada de gente. 

Caçula entendia a sua missão, desempenhando o seu papel de companheira com maestria,com simplicidade, recebendo àqueles que queriam ver ou conversar com meu pai com atenção, e sempre com uma sugestão pronta e acabada ao seu marido, a fim de que todos dali saíssem satisfeitos. Temperamentos diferentes que se completavam. A mesa, sempre farta, com capão – vindo de seu próprio criatório -,  feijão, arroz e salada, era convidativa, e os presentes na hora do almoço, sentavam-se sem o menor sombrosso.  

D Caçula, além de tudo era uma cozinheira de mão cheia. Todos os fins de semana ela esperava os filhos e netos para a conversa domingueira, quando era servido o almoço, uma delícia, um maná  dos deuses, não faltando o famoso doce de leite, e, quando aparecia nos matos, à beira dos cercados,  a fruta silvestre  perruche, ela fazia um doce incrível – que tem um gosto aproximado de uma outra iguaria, que é o doce de mamão.

Na festa de Nossa Senhora Santana, padroeira da cidade, amigos e visitantes são por ela recebidos ocasião em que não esconde a satisfação de vê-los saboreando as suas apetitosas iguarias sertanejas. 

VEREADORES DA OPOSIÇÃO TENTAM INVADIR PREFEITURA PARA TOMAR O PODER

 

Decidida e corajosa. Positiva na hora de dizer a verdade. A gente só conhece mesmo D. Caçula quando se precisa de alguém pra resolver a parada. Eu conto: quando o meu pai era Prefeito de Simão Dias, os seus adversários, movidos pelo despeito, instalaram na Câmara de Vereadores um processo de impeachment relâmpago contra ele – sem a observância ao princípio do amplo direito de defesa -, tendo como objetivo derrubá-lo do cargo de prefeito. Como “Seu” Pedrinho não dispunha de maioria no legislativo municipal, o impeachment iria se consumar, caso o presidente da Câmara tomasse posse no comando do executivo do município. 

Os vereadores adversários estavam dispostos a dar posse ao “novo prefeito” a qualquer custo, que seria o presidente da Câmara.  Com esse intento, marcharam em direção à Prefeitura que ficava na Av. Cel. Loyola. Mas, a caminho, tiveram que recuar imediatamente, porque receberam um recado de D. Caçula de que resistiria até o último homem, e que ela jamais deixaria que ninguém invadisse a Prefeitura. 

A RESISTÊNCIA 

Os adversários souberam que um grupo bem postado no interior da Prefeitura havia sido organizado por D. Caçula, a maioria do Povoado Pau de Leite, e esse grupo estava disposto a dar sua própria vida em defesa do mandato legítimo de Pedro Valadares. Ao pressentirem a gravidade da situação, os Vereadores desistiram da posse,  e ficaram quietinhos e ansiosos em suas casas, aguardando o pronunciamento da Justiça que havia sido acionada por meu pai na cidade de Aracaju, onde ele se encontrava lutando para preservar o mandato que estava prestes a ser usurpado. 

A “providência acautelatória” de D. Caçula fora fundamental para a restauração da ordem institucional do município, de vez que o Tribunal de Justiça no dia seguinte ao da tentativa de invasão da Prefeitura concederia mandado de segurança a Pedro Valadares, sustando o ato da Câmara, assegurando-lhe  o pleno exercício do mandato de prefeito que lhe havia sido outorgado pelo povo em eleições livres. 

CRISE REPERCUTE NA ASSEMBLEIA 

A crise e o seu desfecho ecoaram na Assembleia Legislativa do Estado, com um discurso de protesto feito em termos escandalosos pelo Deputado Nivaldo Santos da cidade de Boquim, o qual, ocupando a tribuna, apelidou  “D. Caçula” de Maria Bonita do Caiçá (rio que banha Simão Dias), pois, denunciava ele, D. Caçula, armada até os dentes, à frente de uma verdadeira cabroeira vinda do Pau de Leite impedira a posse do novo prefeito “eleito’ pela Câmara. Enquanto isso, em sua defesa se levantou o Deputado José Onias que enalteceu o gesto daquela mulher corajosa que, agindo em defesa do mandato legítimo de seu marido, mesmo com o risco da própria vida, poderia ser comparada, segundo o parlamentar, Maria Quitéria, “à intrépida guerreira baiana, a primeira mulher-soldado do Brasil a defender com a sua bravura a integridade da Pátria …”. 

NÃO VOLTO MAIS NUNCA A ESTE LUGAR

Meu pai, homem de índole pacífica e conciliadora,  quebrou um rádio daqueles de válvulas, reduzindo-o a pedaços, depois de ouvir a notícia da derrota de Leandro ao Governo (desta feita para o pessedista de Itaporanga, Arnaldo Garcez, em 1950), tal era sua paixão pelo líder udenista. Eleição disputadíssima, Leandro perdeu a eleição para governador por apenas 134 votos.  Mas, em 1954, ganhou para Edelzio Vieira de Melo com uma diferença de 1.362 votos. 

Todavia, no episódio da supressão do mandato do meu pai tentado por nossos adversários, Leandro fraquejou: aconselhou-o a renunciar para estancar a crise.  

Quando meu pai saiu do sítio, residência do chefe udenista – que ficava em frente ao Hospital de Cirurgia — para onde se dirigira à procura do apoio do líder a quem idolatrava, e do qual jamais esperava uma negativa, voltou com a fisionomia completamente transtornada; entrou na Rural Willys, onde eu me encontrava esperando-o na direção do veículo, e me disse, procurando esconder as lágrimas que lhe rolavam pela face, que nunca mais voltaria àquele lugar.  

Foi uma grande decepção política que o meu pai sentiu. As consequências desse sentimento de abandono pela conduta de Leandro, que ele considerava um homem forte, foram desencadeadas logo a seguir, quando Pedro Valadares fez questão de assumir uma posição de vanguarda na política de Sergipe, ao apoiar para o governo do Estado o então deputado nacionalista que rompera com a UDN, João de Seixas Dória. 

A PRUDÊNCIA DE LUIZ GARCIA (UDN) 

No episódio da tomada do poder municipal pelos vereadores, apesar de solicitada a presença da polícia para dar cobertura àquele ato ilegítimo, ela não compareceu. Estava no comando do Estado o governador Luiz Garcia, o qual não deu guarida à execução de um plano de conspiração contra a democracia que fora tentado para derrubar o prefeito de Simão Dias, Pedro Valadares. A maioria dos simãodienses, e toda a família Valadares, vibramos com a atitude prudente do governador Luiz Garcia ao não coonestar com a política de perseguição movida pelos adversários de “Seu” Pedrinho.

Quando, no ano seguinte, foi candidato ao Senado, Luiz Garcia teve o voto e o apoio de Pedro Valadares e de todo o seu grupo, tendo sido o senador mais votado de Simão Dias, apesar de, injustamente, não ter logrado êxito em sua campanha. Júlio Leite, um político apagado do PR, tirou-lhe a vaga, eleito na onda da mudança. Seixas, então adversário de Luiz Garcia, entendeu o gesto do prefeito Pedro Valadares, em ter votado em Luiz Garcia para o Senado. 

O CANDIDATO DAS QUEIXAS

Pouco tempo depois Leandro foi candidato a governador pela última vez, e o meu pai marchou ao lado de Seixas Dória,  que rompera com Leandro e se tornara o candidato do PSD.  Seixas, naquela época, representou o candidato das mudanças.  O deputado federal Passos Porto (UDN), ao perguntar à minha mãe o motivo do rompimento do prefeito Pedro Valadares com Leandro, e porque estava votando com Seixas, ela respondeu sem pestanejar: “Pode dizer ao doutor Leandro que Seixas é o candidato das queixas…” 

Na minha eleição para a Prefeitura de Simão Dias os homens mais ricos e poderosos da cidade pressionaram minha mãe para retirar a minha candidatura e ela mais uma vez não negou fogo: “Se depender de mim, disse, “Tonho (como eu sou conhecido em Simão Dias) será o Prefeito, nem que seja lutando contra todos vocês” …Graças a gestos como esses é que pude iniciar a minha carreira política, e conseguir chegar aonde cheguei. 

Se alguém por acaso quisesse conhecer uma mulher  de coragem era só conversar com D. Caçula lá em Simão Dias, porque foi ela quem me ensinou com o seu exemplo de que nunca devemos recuar, nem desistir, nem temer o adversário, mesmo o mais forte ou o mais poderoso, sempre tentar, por mais difícil que seja a caminhada. 

ACV

RETALHOS DA POLÍTICA – MORTE SOFRIDA

NO VAPOR 

Para ocupar toda a capacidade de produção do descaroçador, ele desenvolveu um amplo comércio para a compra do algodão em fibra na cidade de Simão Dias e em outros municípios do Estado. 

Após os meus 16 anos, quando eu voltava de Aracaju para passar as minhas férias em Simão Dias, ficava no Vapor (como era chamada a fábrica de beneficiamento), pesando e comprando algodão, e entregando as sementes para os agricultores, em sacos de 3 arrobas (45 quilos). A semente selecionada para o plantio era distribuída gratuitamente aos produtores de algodão. Havia uma parte que era vendida, aquela que era utilizada para alimento do gado que, adicionada com jaca ou mel da cana de açúcar, formava uma ração que continha nutrientes que engordavam os animais. 

No Vapor, cujo maquinário alemão mais parecia uma locomotiva (utilizava a lenha como combustível e a água do rio Caiçá para gerar o vapor), testemunhei atos de bravura do meu pai e do “Seu” Joaquim o velho maquinista dessa engenhoca que movia o descaroçador – na tentativa de reduzir a pressão da caldeira que, de vez em quando, desregulava e ameaçava explodir. Para me proteger de uma possível explosão, valente que só, eu me enroscava por entre os fardos de algodão prensado, ou, perna pra que te quero, dava no pé e lá só aparecia quando tudo estava sob controle… Mais tarde, aquela engenhoca pavorosa foi substituída por um moderno motor a diesel, o que afastou de uma vez por todas o pavor de uma explosão… 

Essa oportunidade de trabalhar no Vapor foi proveitosa porque passei a conhecer muita gente do campo, que mais tarde me ajudou na minha vida política. Hoje em dia, devido a fatores de ordem climática e econômica, monopólio comercial, importação de algodão subsidiado nos países de origem, principalmente do Canadá, adicionados à ocorrência da praga denominada “Bicudo”, acabaram por completo a produção de algodão de Simão Dias (no período a que me referi existiam ali, pelo menos três descaroçadores, beneficiando o algodão e gerando um grande comércio) e de todo o Estado de Sergipe. 

Mas meu pai, além de ter sido agricultor e comerciante, também se tornara um grande político.Começou a sua carreira como Vereador em Simão Dias, depois Prefeito, falecendo ao 53 anos de idade, como Deputado Estadual. 

CORAÇÃO FORTE 

Meu pai faleceu no Hospital Santa Isabel, em Aracaju, cujos médicos tudo fizeram para salvar sua vida tão preciosa para a nossa família e para o povo de Simão Dias. Mas a doença era grave (leucemia), a qual, a cada dia que passava, minava-lhe a resistência. 

Dores terríveis tomavam todo o seu corpo, tão fortes que para aliviá-las os médicos aplicavam morfina. Coração forte, foi o último órgão a deixar de funcionar.  Recordo-me que, naquela  hora difícil, observava com emoção o desvelo e os cuidados dispensados pelo casal Coronel João Machado e D. Meró, ao meu pai – amigos solidários na dor e na alegria.  

Também, a nossa família acompanhou com profundo agradecimento a assistência profissional, generosa e cristã do médico Francisco Rollemberg, cuja presença era permanente no Hospital até o último suspiro de meu pai. 

O LUTO E A EMOÇÃO DE UM POVO

Ao seu sepultamento na cidade de Simão Dias compareceram milhares de pessoas tristes e emocionadas. Eu vi homens e mulheres da minha cidade, chorando como crianças, como se tivessem perdido uma pessoa muito querida de sua família. “Seu” Pedrinho foi embora, o que vai ser de nós?” era o lamento que se ouvia nas ruas. Meu pai tinha uma grande identificação com o povo, vivenciava as suas dificuldades do dia a dia. Sentavam-se à sua mesa não só os políticos de Aracaju que vinham atrás de voto, mas as pessoas simples do meio rural e dos bairros pobres da cidade. 

Numa época em que não havia ambulância para o transporte de doentes, a sua Rural Willys estava sempre à disposição, de dia e de noite, para servir, sem perguntar se era eleitor ou não. Durante as secas que eclodiam no município não faltava água, nem trabalho, nem comida para os flagelados. Eu o acompanhei por muitas vezes como seu motorista em visita de supervisão em todo o município durante as secas ou em épocas normais.

“Seu” Pedrinho era um político respeitado e querido, o que é difícil nos dias de hoje. Seus adversários não o estimavam, mas sabiam o tamanho de sua popularidade, por isso que o temiam e planejavam às espreitas, ou abertamente, o seu afastamento do política simãodiense.   

Pude entender, pelo seu exemplo, que o verdadeiro objetivo do homem público é trabalhar contra a exclusão social, acabando com a injustiça da fome e da miséria. Não era um homem letrado, porém, com o seu comportamento de homem simples, honesto, bom e trabalhador, ensinou-me mais lições do que todos os livros que li até hoje.  

Graças a seu legado político, dois anos depois do seu desaparecimento fui eleito Prefeito de Simão Dias (em 1967), aos 22 anos de idade, numa disputa renhida, quando tive que enfrentar todas as forças políticas e econômicas do município e as derrotei com o voto do meu povo. 

No ano anterior (1966) José Valadares, aos 23, foi eleito Deputado Estadual. Quando meu pai morreu, senti de perto a dor pela perda de um amigo de verdade. Sempre pronto para servir e para fazer o bem, enfrentou tormentos gerados pela política que, impiedosamente, terminaram por desgastar a sua própria saúde e as suas finanças.