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RETALHOS DA POLÍTICA-BATISTÃO & POLÍTICA

Começo discorrendo um pouco sobre três personalidades políticas com as quais convivi no início de minha vida política.

AUGUSTO FRANCO

Augusto Franco,  começou a sua militância política já em idade madura, no ponto em que muitos políticos de sua idade já haviam percorrido mais da metade do caminho. Mas quando resolveu ingressar na carreira, o fez com muito equilíbrio, aplicação e grande dedicação.

Só depois que eu vim morar em Aracaju para exercer o cargo de deputado estadual, passei a ter com ele uma convivência mais próxima. Vivendo entre Aracaju e Simão Dias cumpria minha missão política, dedicando-me na Alese para cumprir o meu mandato com dignidade, e, ao mesmo tempo, cuidar de Simão Dias, enquanto procurava dar assistência e ação de presença nos municípios vizinhos, como Tobias Barreto, Lagarto, Poço Verde, Pinhão e Pedra Mole.

Doutor Augusto foi escolhido governador, em 1978. Neste mesmo ano fui eleito deputado federal, o mais votado, depois de passar oito anos como deputado estadual. Estávamos no final do Governo de José Rollemberg Leite e eu exercia o cargo de Presidente da Assembléia Legislativa. Para ajudar nas composições políticas, a pedido de doutor Augusto, apoiei os candidatos a deputado estadual Antonio Néri, de Tobias Barreto e Augusto Ribeiro, de Lagarto, que foram eleitos.

Da mesma forma como a escolha de seus antecessores, Lourival Baptista, Paulo Barreto de Menezes e José Rollemberg Leite, a ascensão do então senador Augusto Franco ao governo do estado teve a participação e o aprove-se do governo militar. Seu prestígio junto à cúpula política daquele período e a aceitação pacífica de seu nome pelo governador José Rollemberg Leite, da esmagadora maioria das bancadas de parlamentares federais e estaduais, serviram para pavimentar a sua caminhada ao poder executivo.

Houve muita luta de bastidores para impedir a sua indicação na sucessão anterior, mas dessa vez as divergências desapareceram, conquistando o governo de forma pacífica sem qualquer reação da classe política.

Em outro momento falarei mais detidamente sobre o ex-governador Augusto Franco, político e empresário bem sucedido. Tratava-se de um homem que agia na política com muita eficiência e objetividade. Exerceu o poder com a visão de um empresário que não podia falhar como governador. Tinha verdadeira obsessão pelo trabalho.  O slogan de seu  governo, criado pelo seu competente secretário de comunicação Theotônio Neto se ajustava como uma luva à sua personalidade: “O Futuro é Agora”. Augusto Franco tinha pressa pra chegar e resolver.

JOSÉ ROLLEMBERG LEITE

José Rollemberg era uma pessoa admirável, um político correto e respeitado por todos os sergipanos, por sua conduta ética e equilibrada.

À primeira vista fechado e inacessível, no entanto, quem dele se aproximava logo se encantava com o seu bom humor e as suas opiniões calcadas em muitos anos de experiência na política. Fui o seu líder na Assembléia Legislativa. Para me eleger presidente da Assembléia Legislativa contei com o seu apoio e o de toda a bancada do governo.

Não teve dificuldades para exercer o cargo de governador. Os recursos eram escassos, a ajuda federal não aconteceu no volume dos governos anteriores, mas fez uma administração honesta e operosa. Com recursos próprios construiu o Tribunal de Justiça na Praça Fausto Cardoso e o Terminal  Rodoviário, um prédio moderno e de boa aparência, cuja modelo arquitetônico serve até os dias de hoje como um ponto de destaque e referência no panorama urbano de nossa Capital.

Deixou o governo com as finanças organizadas para o seu sucessor  sem nenhuma pendência que pudesse causar danos ao equilíbrio fiscal do Estado.

LOURIVAL BAPTISTA

Lourival Baptista que, em outros tempos fizera movimentos de reação contra a figura de Augusto Franco, terminou acomodando-se à realidade. Afinal, deve ter penetrado na alma daquele político sagaz a lembrança da época em que Augusto Franco abriu-lhe as portas de São Cristóvão para que ali, na fábrica de tecidos, pudesse exercer a sua profissão de médico.  Foi, a partir daí que nasceu uma nova figura de político que, vindo da Bahia, onde nascera e se formara, conquistou muitos mandatos em Sergipe. Lourival, que tinha um jeito alegre de se aproximar das pessoas, e o dom de conquistar adeptos para a sua causa, costumava dizer em relação à sua saúde , longevidade e a arte de fazer amigos, que vivia bem porque “não fumo, não bebo e não tenho raiva”.

Lourival ganhou amigos e adversários, alguns dos quais se tornaram inimigos que espumavam ódio,  mas nunca se gabava, nem comentava sobre alguma maldade que fizera contra alguém. Portava-se como se nada tivesse feito para prejudicar os outros.  Na maior inocência, coçava o bigode, e às vezes reclamava “não sei até hoje porque fulano tem raiva de mim, nada fiz contra ele …” .

Quando inaugurou o Batistão, em 9 de julho de 1969, trouxe a seleção brasileira com o elenco principal quase completo – Pelé, o sergipano Clodoaldo & Cia. Foi uma festa do arromba. Luiz Gonzaga, que fez uma baião homenageando o Estádio e Dominguinhos , se fizeram  presentes àquele evento. Eu ainda hoje vibro com a apresentação espetacular da equipe da seleção canarinha que venceu a seleção de Sergipe pelo placar de 8 a 2.

Lourival deixou o governo com uma popularidade imensa, mas teve grandes dificuldades para emplacar na cúpula política a sua candidatura ao Senado. Ganhou por apenas um voto a convenção partidária. Quem sobrou foi José Rollemberg Leite. Dizia-se aos burburinhos que Lourival só ganhou porque o candidato José Rollemberg Leite, tão ético e honesto que era, votou em branco para não sufragar nas urnas o seu próprio nome … No empate, pela idade, Lourival teria perdido.

ACV

 

RETALHOS DA POLÍTICA – A PARTIDA DE DOIS JUIZES

 

Escola Estadual Fausto Cardoso

MEU CURSO PRIMÁRIO E A PARTIDA DE DOIS JUÍZES

Os meus primeiros anos de estudo foram realizados na cidade de Simão Dias. As últimas séries do ginásio foram concluídas no Colégio Jackson de Figueiredo, em Aracaju. No Atheneu cursei o científico. Antes de entrar na escola propriamente dita, fiz um curso de alfabetização em Simão Dias, com D. Carmosa, minha primeira professora. No quadro negro escrevia bonito. Muito enérgica, colocava em cima da mesa a temível palmatória e ái de quem não obedecesse às suas determinações. Recebia o devido castigo. 

Comecei o ginásio estudando no grupo Escolar Fausto Cardoso, localizado na praça da Matriz. Nessa unidade escolar do Estado tive como mestra D. Rita Cardoso. Competente, didática, muito bonita. Imprimia respeito aos seus alunos, apesar de muito jovem.

UM TIME BEM ENTROSADO: 2×0 no 1º tempo

A professora Rita, era noiva de Deó, que exercia, se não me engano, um cargo de funcionário federal, residente em Paripiranga, cidade do Estado da Bahia, cujo município é fronteiriço com o de Simão Dias. Hoje, com a rodovia asfaltada, a distância entre os dois municípios ficou muito encurtada. De Simão Dias, à noite a gente vê as luzes lá no alto de “Paris” , nome que muitos costumam chamar, no lugar de Paripiranga.  De carro não se demora mais de 15 minutos pra cobrir a distância entre as duas cidades.

Deó, certa vez causou o maior reboliço em Simão Dias ao retirar de campo a sua equipe de futebol, antes do apito final da partida. 

Durante anos e anos persistiu uma grande rixa entre Simão Dias e Paripiranga, em razão dessa partida de futebol disputada na minha cidade no campo empanado do bairro Bonfim, parecido com um circo sem cobertura. Eu estava lá pra torcer pelo meu time. O campo estava apinhado de torcedores fanáticos de ambos os lados.

Antes de começar o jogo, o time de Paripiranga fez um acordo no mínimo estranho com o de Simão Dias: no 1º tempo a equipe visitante indicaria um juiz, e no 2º tempo seria a vez do esquadrão de Simão Dias indicar um juiz de sua preferência que apitaria o embate até o seu término. Costume típico daquela época no futebol, traduzindo um gesto de camaradagem entre concorrentes de uma mesma partida.  

No primeiro tempo o time visitante deu um banho de futebol. Era de dar calafrios nos torcedores de Simão Dias a perfomance de seus lances, rápidos e certeiros, mostrando ser um conjunto realmente assustador. Bem entrosado,  o time deles conseguiu, de passe em passe, envolver a equipe simãodiense, culminando suas belas jogadas com um resultado de dois a zero no primeiro tempo.  Foi um alívio encerrar essa primeira fase porque o placar poderia até ter sido mais elástico. A nossa equipe era muito boa, mas parecia assustada diante da aparente superioridade do adversário. 

A REAÇÃO, A CAMINHO DO 1º GOL

Veio o segundo tempo e o juiz que entrou em campo, conforme combinado pelos dirigentes dos dois times, agora tinha que ser uma pessoa de Simão Dias, por indicação da seleção local. A escolha recaiu sobre a pessoa do Sr. Chico Bina, nome aprovado sem restrições pela equipe adversária. Afinal, tratava-se de um comerciante estabelecido na cidade e um dos homens mais bem conceituados, afinal, uma figura acima de qualquer suspeita.

Pela desenvoltura com que entrou em campo e ensaiou seus primeiros passos depois do apito inicial, parecia que o novo juiz – sagrado e sacramentado pelos duas equipes -, estava disposto a resolver a partida logo no início. Corria todo o gramado com uma velocidade e uma  ligeireza fora do comum, movimentando-se como se fora um atleta,  e com a intenção de um verdadeiro atacante.

Aos três minutos, bastou a bola passar por cima da grande área, onde a defesa de Paripiranga se encontrava postada,  depois de um drible seguido de um centro de Eliziário, ponta esquerda de Simão Dias, naquele empurra-empurra causado por esse tipo de lance, ouviu-se o som estridente do apito do juiz que, com o dedo indicador, apontava para a marca do pênalti. Deó, que era o capitão do clube de Paripiranga partiu pra cima de juiz, em tom enérgico, aos gritos pediu-lhe que anulasse o pênalti, que, segundo o reclamante não existira.

A torcida simãodiense foi ao delírio com a marcação da penalidade máxima, e de nada adiantaram os protestos dos jogadores da equipe baiana.  A redonda foi colocada na marca do pênalti por Nilo, sargento da polícia militar, exímio ponta direita, alto, magro das pernas compridas, bom jogador. Autorizado pelo juiz, deu um chutaço, sem apelação, e o goleiro nem viu por onde a bola passou. 2×1, por enquanto. 

A CAMINHO DO EMPATE

Novo ataque de Simão Dias, novo centro sobre a grande área adversária, e novo pênalti “providencial” foi marcado por Chico Bina: seria  o gol do empate, e um prenúncio de vitória para a seleção simãodiense. 

Bom, aí o time de Paripiranga sentiu-se garfado. Todos os jogadores reuniram-se no meio do campo, e sob o comando de Deó – que além de líder da equipe era também um de seus melhores atletas, – decidiram entre eles, o que, ninguém nem sabia, só um minuto após, todos viram o drama que estava se armando.  Paripiranga decidira, em sinal de protesto abandonar o jogo.

Justo quando  Nilo outra vez ajeitava a bola na marca do pênalti, e já se preparava para desferir o chute e marcar o gol de empate , aparece na pequena área Deó.  O capitão do time de Paripiranga , sem que ninguém esperasse, dirigiu-se à marca do pênalti, pegou a bola e, falou ao ouvido de Nilo “essa bola é do meu time, você usa a de vocês, com o gol vazio, porque eu vou embora daqui”. Botou a bola debaixo do braço e se evadiu do gramado, e, levantando o braço desocupado, deu sinal chamando os seus companheiros com os quais entrou no ônibus de volta a Paripiranga. 

A FRUSTRAÇÃO E A GOZAÇÃO 

Foi uma verdadeira ducha de água fria na torcida de Simão Dias que não comemorou a vitória porque a partida não tinha mais adversário e o gol de empate simplesmente não acontecera. Restara-lhe como único trunfo a saída intempestiva da equipe adversária que, pelo andar da carruagem, seria derrotada em campo, inapelavelmente. Por isso fugira com medo …

Os torcedores de Simão Dias ficaram irados, bradando horrores do time fugitivo. Ficou na alma do simãodiense a frustração de uma partida quase vencida, que só não acontecera por causa da covardia do adversário que desaparecera do gramado ao pressentir que iria perder… Em todos os botecos, bares e esquinas,  a frase que mais se ouvia por muito tempo, e que ainda cutuca a minha memória hoje em dia:  “Deó correu de campo! Deó correu de campo!”

Na sala de aula D. Rita não gostava de ouvir dos alunos aquela expressão. Todos foram proibidos de falar em futebol, mesmo nos intervalos… A gente apenas cochichava, fazendo troça do Deó, o noivo da professora… (Deó correu de campo! rsrsrsrs …).

Chico Bina se elegeu vereador de Simão Dias por várias legislaturas.