João Alves Filho, o trabalho foi a sua marca
O governador João Alves deixa um grande exemplo de coragem e determinação como político e administrador. Para ele, seus planos e projetos praticamente não tinham limites. Sonhava e pensava grande. Partia para executar sem retroagir do seu intento, por maiores que fossem as dificuldades, até que a obra fosse realizada. Em três mandatos de governador deixou a marca do seu dinamismo e dedicação, imprimindo um estilo próprio que dificilmente será igualado por outro governante.
Embora escolhido pelo governador José Rollemberg Leite para dirigir a prefeitura de Aracaju por sua condição de engenheiro, por ser um nome técnico, ainda sem o timbre da experiência política, ao galgar o posto de governador, no entanto, já era considerado um homem talhado para ser gestor e exercer com maestria a arte da política.
Fui o seu vice-governador e pude ver de perto o quanto ele amava Sergipe. O que mais o inquietava era a pobreza do interior causada sobretudo pelas secas inclementes. Daí, acalentando o sonho de melhorar a vida do nosso povo, entregou-se de corpo e alma às ações direcionadas para a área de irrigação, criando o famoso projeto que ele denominou de “Chapéu de Couro”, fato que o identificou com o homem do sertão até os dias do seu desaparecimento e que vai perdurar por todo o sempre.
A figura de João Alves transmitia alegria, cordialidade e entusiasmo.
Nunca tentou um cargo eletivo no poder legislativo, deputado ou senador. Deixou que essa nobre missão fosse exercida por D Maria do Carmo. Duas pessoas e duas lideranças que se completavam no lar, no trabalho e na politica, interagindo ambos em plena harmonia, dando um exemplo de que uma boa convivência familiar pode resultar em conquistas notáveis para todo um povo.
Vivi ao seu lado momentos tensos e decisivos da política do Estado e da Nação. Fui governador por quatro anos, e a minha eleição ocorreu em virtude de sua coragem em ficar no governo e resolver apoiar-me. Eu tinha preparo, serviço prestado e o povo me conhecia, mas nunca deixei de ser-lhe grato publicamente pelo seu gesto para mudar a história da sucessão em 1986, dando um passo importante para renovar os quadros dirigentes de nossa terra.
Quando o senador Lourival Baptista me procurou para dizer-me que o presidente Sarney precisava saber o que eu achava, como único governador eleito do PFL, de joão Alves ser escolhido para ministro do Interior, de pronto, fiz uma carta manifestando todo o meu entusiasmo e apoio por aquela ascensão de um sergipano ao Ministério do governo federal.
Mesmo nas divergências que sobrevieram depois, sempre restou uma luz que nos unia e que reluzia no passado quando estivemos juntos e juntos fizemos muito por Sergipe.
João Alves Filho, “O Negão”, como também ele gostava de ser chamado, foi um grande político sergipano, popular, dinâmico, corajoso e idealista, cujo desaparecimento deixará muita saudade e excelentes lições.
Que Deus, Criador e Construtor de todas as coisas do Universo, cuide da alma de João Alves, e que lhe dê a paz celestial na Casa do Senhor.
ACV