Por que então, aos sertanejos de Sergipe e da Bahia, que moram tão perto do rio, na condição de habitantes de Estados doadores, lhes seja postergado o início das obras do Canal de Xingó, uma ínfima transposição do São Francisco, sem morros e serras a transpor, e as águas chegando às populações apenas por gravidade?
As secas são o maior flagelo em nosso Estado, fenômeno que se espraia pelo semiárido nordestino, reduzindo a capacidade produtiva da agropecuária a zero, dizimando o nosso rebanho, fragilizando a indústria leiteira, que gera milhares de empregos, tudo regredindo na estiagem, provocando o desespero e a fome, por falta d’agua no Sertão.
Alagoas começou com recursos próprios a construção do chamado Canal Alagoano, concluindo o seu percurso principal com recursos federais oriundos de emendas de bancada.
Obras estruturantes servem para expulsar a pobreza e promover o desenvolvimento. Elas fortalecem a economia, criam oportunidades de emprego, numa palavra, geram riqueza. Vivemos em pleno século XXI, a era da informática e da inovação tecnológica, e o Sertão ainda tem o retrato do atraso e da pobreza extrema. Essa região, se for bem cuidada, preparando-a com ações de caráter permanente, torna-se-á um celeiro agroindustrial, com capacidade para suprir as suas necessidades, entrar na concorrência das exportações, ofertando divisas ao nosso Estado, e ajudando a aumentar arrecadação para cobrir despesas correntes e investimentos do Estado e dos Municípios.
Infelizmente, a corrente de esperança que movia a construção do Canal de Xingó desapareceu por completo do nosso debate em torno das grandes saídas para o desenvolvimento sergipano. Perde-se tempo com a estratégia modesta, sem visão de futuro, quando se levam ao governo central, seja pelo governo, ou por nossa representação parlamentar, reivindicações para resolver problemas do dia a dia, ou para salvar do colapso uma gestão, sem pensar nas futuras gerações. De que adianta uma BR duplicada se não temos produção? O território sergipano servirá apenas de passagem de mercadorias que vêm de outros Estados.
A verdade é que penetrou no nosso meio político uma descrença total em discutir alternativas estruturantes, em saídas duradouras ou permanentes que ataquem de vez o problema do nosso crônico subdesenvolvimento. Não nos apeguemos ao ceticismo que só nos distancia do futuro, e só cuidando do trivial, das coisas comuns, sem nos dedicarmos com o fazer hoje para construir o amanhã.
TROCAR O CARRO PIPA PELA PRODUÇÃO
Se queremos ser grandes, temos que perseverar naquilo que pode transformar a natureza em nosso próprio benefício. O rio São Francisco aí está, bem pertinho de nós, um tanto enfraquecido pela mão do homem, mas ainda capaz de transpor as suas águas dadivosas para Estados que estão a milhares de quilômetros de suas margens, através do projeto de transposição totalmente executado com recursos da União.
Continuo a defender, com fé e esperança, a execução das obras do Canal de Xingó como a alternativa mais consistente, para solucionar em caráter permanente, a crise hídrica que se eterniza no Alto Sertão, com reflexos altamente prejudiciais à economia sergipana.
A contratação de caminhões pipas pelos municípios em situação de emergência, além de ser considerado um simples paliativo, tem o condão de colocar o sertanejo totalmente dependente da autoridade doadora, durante o período das secas, fato que representa uma humilhação que se repete a cada período de crise.
Em outros tempos não muito longínquos, a distribuição de água potável e alimentos para o Sertão terminou gerando a chamada “indústria das secas”, pela exploração indecorosa e desumana de autoridades que enriqueciam às custas da miséria dos flagelados, e ainda ganhavam votos para se elegerem ou venderem o prestígio assim obtido para potentados da política. E o pior, é que, essa política de socorro aos flagelados, ainda está na ordem do dia e na estratégia dos que lutam para manter-se no poder.
A crise hídrica tende a piorar com o tempo, pelas mudanças climáticas, e, ainda, em virtude do crescimento demográfico e demandas da cadeia produtiva do leite, a qual, tendo como polo o município de Nossa Senhora da Glória, se estende por todo o território sergipano, influenciando a queda ou a ascensão de nossa já depauperada economia, a depender da execução inadiável de obras estruturantes, a exemplo do Canal de Xingó.
Além de se preocupar com a construção de sistemas de abastecimentos singelos, como cisternas , abertura de poços artesianos, aguadas e pequenas barragens para “segurar” a água por um tempo razoável, o governo do Estado tem que colocar entre suas metas prioritárias, em parceria com o governo federal – contando com a participação do vizinho Estado da Bahia -, o Canal de Xingó.
A nossa bancada federal terá um grande papel no desenvolvimento do projeto Xingó.
Esse canal, obra estruturante de grande repercussão econômica e social, construído, será o marco definitivo para o abastecimento d’água da região, pois, irá atender, quando pronto, às populações mal servidas do precioso líquido, promoverá a dessedentação animal (evitando que o gado seja dizimado durante as estiagens prolongadas), bem como atenderá à crescente indústria leiteira regional.
Para tanto, teremos que ter as bancadas federais de Sergipe e da Bahia unidas, com a força dos dois governadores eleitos. Só assim poderemos sensibilizar as autoridades do poder executivo da União, fazendo-as acreditar na viabilidade do Canal de Xingó para salvar os sertanejos da sede e da destruição econômica. A Codevasf trabalhou o quanto pôde para elaborar todos os projetos que mostram, seguramente, que o Canal de Xingó será a obra redentora para alavancagem do desenvolvimento regional.
Somos doadores das águas do Velho Chico para outros Estados do Nordeste com as obras da transposição já concluídas. Os eixos leste e norte da transposição do Rio São Francisco, durante o seu trajeto, exigiram obras de engenharia custosas e de alta complexidade, com estações elevatórias e a implantação de um sistema de bombas de alta potência para transportar a água até as áreas previstas no projeto.
O governo da União foi capaz de tornar realidade a transposição das águas do Rio São Francisco para lugares tão distantes, vencendo serras e morros, para resolver a questão dos recursos hídricos de outros irmãos nordestinos.
Por que então, aos sertanejos de Sergipe e da Bahia, que moram tão perto do rio, na condição de habitantes de Estados doadores, lhes seja postergado o início das obras do Canal de Xingó, uma ínfima transposição do São Francisco, sem morros e serras a transpor, e as águas chegando às populações apenas por gravidade?
Nesta luta não há lugar para pessimismos. Exigimos apenas aquilo que temos direito. Se lutarmos juntos, Sergipe e Bahia, vamos conseguir!
ACV