DA INVENÇÃO DA FRAUDE PARA DESFERIR O GOLPE

Vira e mexe, o presidente dos EUA Donald Trump usa a sua metralhadora giratória atirando a torto e a direito. Com a mira um tanto quanto descalibrada desfere tiros indistintamente, atingindo países aliados ou não, em uma guerra comercial de caráter protecionista, sem precedentes na história dos conflitos econômicos.  É a prática de um nacionalismo atrasado de bater no peito ou fazer acenos copiados do nazismo hitleriano passando a impressão para o grande público de um gesto de extrema arrogância.

Deixando de lado todas as encrencas que ele arrumou no seu primeiro mandato, em cuja ocasião inclusive foi aberto contra ele um processo investigativo por abuso sexual, vou citar apenas o imbróglio da invasão do Capitólio (sede do Poder Legislativo americano) intentada por seus tresloucados seguidores, incitados pelo discurso radical e inoportuno  do presidente Trump de que nas eleições perdidas para Biden o resultado fora fraudado. Esse movimento de protesto, que lhe valeu o segundo impeachment (saiu ileso),  ocorreu no dia 6 de janeiro de 2021, considerado por juristas como uma tentativa atabalhoada de golpe de Estado contra a ordem constitucional e o sistema eleitoral  americanos vigentes. Pelo menos 5 pessoas perderam a vida e dezenas de policiais ficaram feridos.

O DIA DA LIBERTAÇÃO

Utilizando uma mensagem comercial belicista, escolheu o dia 2 de janeiro de 2025, como O Dia da Libertação dos EUA, data em que lançara o seu pacote de maldades contra o mundo inteiro.  Exagero maior não existe ao considerar o lançamento de um tarifaço como um ato patriótico de libertação, dando a entender de que a nação naquele ato, estaria se libertando das amarras de um mundo perverso, ou que estaria, segundo a sua falsa pregação, fazendo o ressurgimento dos EUA depois de tantos anos de aprisionamento econômico forçado. É sabido que a única libertação que houve no país, após a sua independência política, foi a libertação dos escravos, a qual, para ser concretizada foi desencadeada a Guerra da Secessão, que custou lágrimas e sangue, entre irmãos do Sul e do Norte da América.

Para fazer valer esse pacote de taxas da “Libertação”  que foram calculadas por sua equipe econômica empregando fórmulas mirabolantes, o presidente encrenqueiro nem se condoeu de que estava expurgando a diplomacia da boa convivência entre nações, desrespeitando acordos comerciais e enfraquecendo o comércio bilateral, possivelmente mergulhando o seu próprio país numa recessão descontrolada.

RIQUEZA E ABUNDÂNCIA

Ao contrário daquilo que prega Donald Trump, os EUA na fase atual nadam em abundância e prosperidade. Contudo, sua ação é no sentido de mostrar que antes dele a nação quase não existia, era quebrada e ingovernável, e que agora sob seu comando, é que será grande, rica e poderosa e  que está conduzindo o seu barco para águas calmas. Pura mentira, que nem uma pessoa simples do povo e sem maiores conhecimentos do dia a dia americano acredita.

A realidade será sentida por aqueles que sabem onde o sapato aperta, quando forem ao supermercado para abastecer suas cozinhas, ao mercado imobiliário para comprar um apartamento para morar,  procurar escolas para educar seus filhos ou contratar planos de saúde e de aposentadoria para se curarem e se prevenirem, ou comprar um simples carro para se locomoverem.

O Sr Trump e sua equipe de conselheiros bilionários nunca sofreram na carne a dor que sente a gente comum dos Estados Unidos e dos outros países.

EM CURSO O PAPEL SECUNDÁRIO DOS EUA

Segundo o colunista Fared Zacaria em  artigo escrito para o`Washington Post´, e transcrito no Estadão,  sob o título “Trump pode levar EUA a um papel secundário no mundo”, em seu conteúdo traz a lume dados bastante interessantes sobre a boa vida dos americanos nos tempos de hoje: “Em 1990, a média salarial dos EUA era de 20% maior do que a média geral no mundo industrializado avançado; agora é cerca de 40% maior. Em 1995, um japonês era 50% mais rico do que um americano em termos de PIB per capita, hoje um americano é cerca de 150% mais rico do que um japonês”. 

O famoso articulista informa que o estado americano mais pobre, o Mississipi, tem um PIB per capita maior do que o do Reino Unido, da França ou do Japão.

Por fim, Zacarias adverte que Trump está arrastando os EUA para a época em que o país era mais pobre, dominado por oligarcas e corrupção e contente com sua arrogância em seu próprio quintal e em intimidar seus vizinhos, mas secundário em relação às grandes correntes globais da economia e da política. 

O TARIFAÇO E A VANTAGEM DA CHINA

Os efeitos da política desastrosa de Trump já se fazem sentir no âmbito interno com a eclosão de movimentos de protestos contra os cortes na educação e na saúde, o medo do aumento do custo de vida e das taxas de desemprego  e de uma nova escalada inflacionária.

As nações estão se preparando, cada uma delas retaliando a seu modo, impondo tarifas mais ou menos iguais às dos EUA.  Na tentativa de minimizar o prejuízos causados pelas medidas, os governantes tiram do baú seus planos de reciprocidade tarifária e querem  utilizá-los como armas de dissuasão para rechaçar os libidos de ganhos econômicos do desalmado governante, cujo comportamento nem Freud explicaria.

A China reagiu na mesma proporção e  parece estar levando ampla vantagem econômica com seu potencial de produção e de consumo ao abrir suas portas para as nações. Apesar de adotar um sistema político ditatorial, os seus governantes procuram melhorar a sua pujança econômica com uma postura pacífica e empreendedora para conquistar novos mercados em vez de intimidar os outros com ameaças e criação de tarifas absurdas.

A loucura de Trump já deu sinais em entrevista divulgada antes de sua posse,  na qual sugeriu a anexação do Canadá e a tomada por meios militares da Groelândia (território da Dinamarca), uma grave ameaça  a países amigos que nunca empreenderam atos belicosos contra os EUA.

No que se refere ao Brasil, por ser um grande celeiro de produção de alimentos e devido ao seu grande potencial de reservas de minerais,  de petróleo e gás, não tem o que temer. Pode ser um parceiro mundial forte nas trocas comerciais, e tornar-se graças  a Trump numa alternativa de alinhamento e acordos com os países contrariados com os EUA. O Mercosul, do qual o Brasil faz parte, ganha cada vez mais a compreensão e simpatia do Mercado Comum Europeu nos negócios bilaterais que por sinal já estão em andamento.

BAGUNÇANDO A PAZ AO INVÉS DE CONSTRUIR PONTES DE ENTRELEÇAMENTO

Tudo leva a crer que o dinheiro e o poder modificaram a mente da mais elevada autoridade americana. Trump deveria saber que pela posição que ocupa de presidente da maior potência mundial que em duas guerras mundiais combateu contra o autoritarismo e o nazifascismo, pelo ideal democrático, deveria preservar a memória de suas heróis mortos na luta, pronunciando-se com um mínimo de discernimento e respeito aos países e à determinação dos povos, preocupando-se em unir as nações em torno dos EUA, como fizeram tantos vultos da história americana.

Ao invés de bagunçar a obra de paz e união construída por figuras exponenciais que construíram a grande nação americana, Donald Trump estaria muito melhor colocado como presidente se abandonasse a encrenca e partisse para construir pontes de amizade e de bom entrosamento  com todos os países, seguindo o caminho da paz e do trabalho.

*Antonio Carlos Valadares

Advogado especialista em Direito Político e Prática Eleitoral

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ex-senador da República. Fui Lider/PSB, vice-pres/Senado, pres/CDR, pres/ConselhoDeÉtica, pres/CAS, pref/S. Dias,dep estadual/pres da ALESE, dep fed, Sec/Educ, vice-gov, gov, senador 3x